
#PraCegoVer: um garoto com cara de choro e medo, sentado no seu quarto, atrás dele há uma parede esverdeada com uma prateleira de livros e uma luminária, disponível em: https://www.uziporai.com.br/2016/10/series-black-mirror-analise-do-episodio-3-da-3a-temporada.html
A série distópica Black mirror deve ter espantado muitos de nós, provavelmente nos perguntamos ao decorrer dos episódios: essas realidades seriam possíveis? Será que agiríamos dessa forma, nestes contextos? O seriado célebre que ficou conhecido por abordar avanços tecnológicos relacionados às relações humanas, à ética, à segurança e outros assuntos, conta com cinco temporadas e está disponível na Netflix.
Entretanto, ao nos depararmos com tais realidades possíveis, especificamente no terceiro episódio da terceira temporada “Manda quem pode”, onde a irmã de Kenny, personagem principal, ao baixar um filme, acaba por infectar o notebook com malwares e dá acesso aos hackers sem saber. O que acontece aqui, é que Kenny é descoberto pelos invasores piratas e seu segredo mais profundo é exposto, o diretor logo no começo já nos dá pistas do suposto crime, o jovem é consumidor de pornografia infantil, assim como outros caras que também irão aparecer ao decorrer da série e serão chantageados. Há também outra personagem secundária, uma empresária importante que tem seus e-mails racistas vazados pelos próprios hackers.
Então pensamos: imagine se todas essas pessoas fossem expostas? Se os Ethical hackers - assim chamados os hackers do bem - usassem a tecnologia para expor esses criminosos, como seria? Mas nos confrontamos com uma realidade um pouco diferente. No Brasil atual, o que estamos vendo é que algumas pessoas não precisam de ciberpiratas para os expor, elas mesmas fazem isso.
Imbuídos de um nacionalismo exacerbado e um discurso de ódio latente, que se tornou moda e ganhou certo status entre os seguidores do atual presidente, personalidades da internet como o Monark do Flow podcast, acabou por fazer seu próprio cancelamento, após discursos racistas. Para piorar a situação, logo em seguida ele tweetou:

#PraCegoVer: [IMAGEM] twete do Monark do Flow podcast que traz a seguinte mensagem: É a ação que faz o crime e não a opinião, disponível em: https://twitter.com/monark/status/1453100235547414530?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1453100235547414530%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fbr.vida-estilo.yahoo.com%2Fentenda-polemica-flow-podcast-ifood-monark-cancelamento-opiniao-162951616.html
Mas ele se esqueceu que ‘’opinião’’ é uma forma de enxergar o mundo e isso leva a ações no cotidiano, na vida. Também se esqueceu que há uma diferença enorme entre discurso de ódio e opinião. Este diz respeito a gostar disso ou daquilo, mas não gostar de x não implica querer a morte dele ou impor barreiras sociais, enquanto que o primeiro, por meio de falas levam a ações que tiram a vida do outro, levam pessoas a se odiarem e possivelmente geram suicídios, é um cerceamento da liberdade do outro. Podemos citar também o Maurício do vôlei que após discursar falas homofóbicas em seu perfil no Instagram, perdeu patrocínios de empresas e alguns de seus contratos, assim como aconteceu também com o Monark.
Pelo visto, estas pessoas não perceberam que o mundo passa por uma mudança profunda, as pessoas se questionam, mudam suas posições, entendem o que não convém mais, o que deve ficar no passado, mas não podemos esquecê-los. O movimento “Black lives matter”, trouxe a derrubada de estátuas racistas no Brasil e no mundo, o que já nos dá indícios de possíveis mudanças na política, cultura, e crença de parte do globo terrestre.
Black mirror pode nos assustar em um primeiro momento, por nos mostrar mudanças radicais nas relações humanas, na quebra da privacidade através da tecnologia. Contudo, o que vemos no delírio do nosso país é que não foi preciso de terceiros para expor crimes, os autores são seus próprios sabotadores, suas próprias sombras capazes de expor o que há de pior dentro de si.
Fred Zeffirelli
Letras, FFLCH
#blackmirror, #distopia, #queimadasnaamazonia, #tecnologia, #crimesvirtuais #series #seriesnetflix #atualidades #homofobia #racismo
Comments