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Foto do escritorLarissa Santos

Desenvolvimento ou despossessão?

Atualizado: 27 de ago. de 2019

Neoextrativismo nas Américas

Legenda: “98,86% disse NÃO À MINERAÇÃO” em consulta comunitária realizada no departamento de Santa Rosa, Guatemala. Fonte: EJ Atlas #Pracegover [Fotografia]: Homem de chapéu de couro marrom claro, pele morena e camisa azul com bolinhas brancas segura uma placa com as duas mãos, cobrindo sua boca. Nela está escrito em espanhol com letras amarelas e pretas “Em Nueva Santa Rosa, Santa Rosa, Guatemala, 98,86 % disse não à mineração através da consulta municipal de vizinhos realizada em 3 de julho de 2011”.
Legenda: “98,86% disse NÃO À MINERAÇÃO” em consulta comunitária realizada no departamento de Santa Rosa, Guatemala. Fonte: EJ Atlas. #Pracegover [Fotografia]: Homem de chapéu de couro marrom claro, pele morena e camisa azul com bolinhas brancas segura uma placa com as duas mãos, cobrindo sua boca. Nela está escrito em espanhol com letras amarelas e pretas “Em Nueva Santa Rosa, Santa Rosa, Guatemala, 98,86 % disse não à mineração através da consulta municipal de vizinhos realizada em 3 de julho de 2011”.

Em 2016, um pequeno acampamento em protesto ao oleoduto na Reserva Standing Rock, inicialmente estabelecido para bloquear a construção do mesmo, se converteu no maior movimento indígena do século XXI nos Estados Unidos. A frase citada ao lado, na foto, foi dita por um dos membros da resistência indígena da Nação Sioux ao projeto milionário Dakota Access oil Pipeline (DAPL), proposto pela empresa norte-americana Energy Transfer Partners, arquitetado para construir um oleoduto de petróleo que percorrerá uma reserva indígena no estado de North Dakota. O documentário More than a Pipeline (Robert Bridgeman, 2017) conta a história do pecado original dos Estados Unidos, traduzido nas guerras que se estendem até os dias de hoje contra as comunidades que decidem se opor a projetos como o DAPL.


More than a Pipeline é um documentário inspirado nos eventos reais de enfrentamento de forças públicas e privadas de segurança contra a resistência pacífica em Standing Rock. O embate poderia muito bem ser um thriller de espionagem e ação, se atitudes de empresas como a Tigerswan, contratada pela Energy Transfer Partners, fossem convertidas em drama cinematográfico. A partir do uso ilegal de inteligência artificial e vigilância nos acampamentos, e do uso estratégico de agentes do FBI, ali infiltrados para cooptar lideranças e realizar operações altamente militarizadas para a desocupação, empresas de segurança privada e Estado se confundem. Todos, porém, em defesa de um discurso, colocado acima de qualquer direito: o do desenvolvimento.


Projetos extrativos, que exigem um investimento significativo por parte das empresas que os conduzem, muitas vezes envolvem o engajamento de táticas de segurança inspiradas em estratégias contra-terroristas empregadas pelos EUA em países como Iraque e Afeganistão. Não por acaso, empresas de segurança privada como Tigerswan e ISDM LLC têm um histórico de atuação nestes dois países. A experiência adquirida na guerra ao terror é diretamente aplicada em contexto de protestos pacíficos, como são os de Standing Rock e os das minas de ouro e prata na Guatemala, retratados nos filmes Sipakapa no se vende (Alvaro Revenga, 2015) e Minería y Corrupción: el caso de San Rafael las Flores (Colectivo Madre Selva, 2016). Ambas as produções cinematográficas abordam a resistência das comunidades locais à mineração de ouro e prata, respectivamente, expressa em consultas públicas nas quais a população vota majoritariamente contra a exploração mineral nos dois territórios.


O colonialismo contemporâneo nas Américas tem nome. Se chama neoextrativismo. No mês de agosto, trataremos das diferentes faces do extrativismo contemporâneo, desde sua versão mais visível - como é o caso da exploração mineral, que viola territórios e polui corpos de água inviabilizando a subsistência e práticas tradicionais - até as expressões menos óbvias de extração, por meio da exploração das fontes de energias renováveis. Contaremos neste mês a história de mais de 500 anos pela defesa do território indígena, que inclui tanto a integridade da mãe natureza quanto das comunidades que têm suas terras como uma extensão de seus modos de vida tradicionais.


Larissa Santos

Geógrafa (USP) e Pesquisadora (University of Regina)


Nota

[1] Brown, Alleen, et al. “Leaked Documents Reveal Counterterrorism Tactics Used at Standing Rock to ‘Defeat Pipeline Insurgencies’”. The Intercept, 27 de maio de 2017, https://theintercept.com/2017/05/27/leaked-documents-reveal-security-firms-counterterrorism-tactics-at-standing-rock-to-defeat-pipeline-insurgencies/.

Fonte da imagem: EJOLT. “Proyecto Minero El Escobal, Guatemala | EJAtlas”. Environmental Justice Atlas, https://ejatlas.org/conflict/el-escobal. Acessado 7 de agosto de 2019.

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