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O cuidado, a sobrecarga e a desvalorização da dupla jornada feminina


#ParaTodosVerem: Uma mulher cozinha segurando uma criança no colo. Ao lado (na pia) um notebook está ligado com a seguinte mensagem: home office.

Disponível:https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/trabalho-e-formacao/2020/04/26/interna-trabalhoeformacao-2019,848505/sobrecarga-atinge-mulheres-durante-a-quarentena-deixando-as-por-um-fio.shtml


Tema do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023, o ofício do cuidado escancara a falta de valorização da dupla jornada assumida majoritariamente por mulheres. A associação arcaica de funções que devem ser delegadas por gênero, reforça estereótipos femininos como: "mulheres são naturalmente mais zelosas", "são ótimas com tarefas do lar", "a maior ambição feminina é ser mãe" e há a ideia de que o homem, quando ganha mais no serviço, pode relegar à mulher os afazeres domésticos. Essas banalidades vigoram a configuração social e patriarcal que impactam a saúde física, mental e autoestima de cada mulher com si mesma.


Segundo o site Oxfam [1], as mulheres são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado (90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito informalmente pelas famílias - e desses 90%, quase 85% é feito por mulheres.). Ao contrário da crença popular, o patriarcado não é uma espécie de "ordem natural das coisas", pois com os dados da Oxfam fica nítido que o sistema social que homens mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança, enquanto as mulheres são responsáveis pelo cuidado.


Nas sociedades primitivas os homens saíam para caçar e pescar, enquanto as mulheres se encarregavam de preparar os alimentos, cuidar do lar e das crianças. A prestação de serviços para terceiros envolve muitas horas de dedicação e a economia do cuidado é essencial para a humanidade e para sua sobrevivência. Ao falar do trabalho de cuidado associam-se recorrentemente com a maternidade. A obra cinematográfica "Tully" (2018), aborda os desafios de uma mãe durante a gestação do seu terceiro filho. O filme apresenta de forma cru e real a vida da personagem Marlo, que é muito atarefada e desgastante, fazendo o telespectador refletir sobre a solidão e sobrecarga de uma mulher. A perda de autoestima da personagem conduz a história para ponderação de padrões utópicos que uma mãe deve se comprometer para atingir o bem estar da família. "Tully" (2018), fala das dificuldades enfrentadas para a mulher ultrapassar a fase do puerpério e como isso afeta fisicamente, emocionalmente e mentalmente. Cabe refletir, que este cenário não se limita a ficção, mas representa de forma clara a realidade de muitas.


No filme, os diferentes estados da personagem principal durante o puerpério não a fazem "ser como antes", mesmo com o desejo ardente de recuperar sua vaidade e reacender seu casamento. Vale lembrar que além da maternidade, o cuidar de idosos e doentes físicos e mentais são outras funções que dispõem de tempo e disposição. Os desafios para valorização afetam a participação das mulheres na economia e suas resoluções não são somente estruturais, mas também culturais.




Pâmela Vitória Nogueira Silva - graduada em Letras (FFLCH) e bolsista do Projeto CineGRI, ciclo 2023-2024.



Referências bibliográficas:


[1] https://materiais.oxfam.org.br/mulheres-contra-as-desigualdades (Acesso: 27/11/2023)


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