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Pacificação ou repressão: às UPPs e a cultura periférica


Fonte: blahzinga


#PraCegoVer [Fotografia]: Uma parede de tijolos de diferentes tons de laranja onde está pichado a frase "CADÊ O AMARILDO" em letras de forma. No centro da imagem há um cano de plástico branco em formato da letra "L" ao contrário exposto. No canto superior direito há uma janela com grades aberta, onde se vê um homem negro em pé. A casa dessa janela também é feita de tijolos com diferentes tons de laranja. Abaixo da janela há uma escada.


Em julho de 2013, Amarildo Dias de Souza, um ajudante de pedreiro e morador da Favela da Rocinha, foi sequestrado e morto por policiais militares integrantes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Seu assassinato foi faísca para inúmeras manifestações em 2013, que denunciavam a repressão abusiva do Estado e o fracasso das UPPs.


O caso de Amarildo tornou-se inspiração para o filme O Estopim (Mac Niven, 2014), um documentário filmado na Rocinha, que conta com relatos da viúva, Elizabeth Gomes da Silva, e do amigo de Amarildo e líder comunitário, Carlos Eduardo Barbosa, que compartilha sua vivência própria com a violência policial, a invasão de sua casa, as ameaças que sofreu pela polícia e a realidade das UPPs.


O documentário possui um evidente clima pesado, com pouca cores, combinado ao céu nublado do Rio de Janeiro, a diversas vistas de casas da Rocinha, vídeos em tons escuros e alaranjados atravessando as ruas da comunidade, filmagens de segurança, áudios internos da polícia, fortes cenas de tortura e declarações dadas pelos moradores da favela, muitos apreensivos ao abordar o tema.


Outros depoimentos servem para compor a vida de moradores de comunidades onde há a presença de Unidades de Polícia Pacificadora. O projeto da Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro, tinha, teoricamente, como objetivo a ocupação de áreas com altas taxas de criminalidade e grande presença de facções criminosas. Seu protocolo correspondia ao estabelecimento de sedes policiais permanentes para suposta proteção comunitária.


Em muitas comunidades, as UPPs tiveram efeito contrário do que era intencionado na teoria. Rocinha, Complexo do Alemão e Complexo da Penha, por exemplo, tiverem seus confrontos entre a polícia e traficantes intensificados, que instalaram um constante clima de terror entre os moradores, amedrontados com o aumento dos tiroteios e da brutalidade policial.


A proposta, encabeçada pelo então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que posteriormente foi preso por corrupção, tinha a intenção de declarar sua clara priorização da segurança pública, preparar a capital do estado para o recebimento das Olimpíadas e restringir o que é visto por muitos políticos como "degradação", a cultura periférica.


O início das instalações das UPPs marcaram igualmente a ampliação da limitação de bailes funks, parte essencial da cultura e lazer do jovem da periferia. Ao mesmo tempo, houve o incentivo a sambas pagos e, consequentemente, frequentados ou por um público de classe média, que reside do lado de fora das favelas cariocas, ou por turistas, encantados com a cultura "exótica" (!) brasileira.


Áreas ocupadas por UPPs passaram não apenas a ter em seu cotidiano a presença policial, mas também a ter seus eventos sujeitos à aprovação de autoridade estatal. Essa nova política sócio-cultural é digna de, no mínimo, questionamento quanto a sua seletividade na escolha do destino do patrocínio de lazer e cultura. Haveria uma preferência por eventos mais "palatáveis" turisticamente? Há, por trás da escolha, um julgamento moral? Quais critérios são usados para consentir um evento cultural? Por que o Estado insiste em conectar funk e , em um arco mais amplo, a cultura periférica com o tráfico de drogas ou a criminalidade em um geral?


Referências:


NIVEN Mac. O Estopim. 2014. Disponível em: <https://youtu.be/c11tpEKvYmA>. Acesso em: 30 de janeiro de 2020.


Critica de filme | O Estopim. Disponível em: <https://www.blahzinga.com/critica-de-filme-o-estopim/>. Acesso em: 04 de fevereiro de 2020.


Mariana Ramos, Graduanda em Ciências Sociais (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2019/2020.



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