No dia 16 de março de 2021, ataques simultâneos assombraram o estado da Geórgia, nos Estados Unidos. Um homem armado abriu fogo em três casas de massagem, localizadas no condado de Cherokee e Atlanta. Das oito vítimas fatais, seis eram mulheres de origem asiática, fato que evidencia a natureza xenofóbica e racista do ataque terrorista.
Desde o início da pandemia global de Covid-19, podemos observar uma tendência crescente de ataques de ódio direcionados à comunidade asiática em todo o mundo. Nos Estados Unidos, discursos racistas proferidos pelo ex-presidente Donald Trump determinam o tom dessas agressões. Por diversas vezes, o político norte-americano usou, de maneira mal-intencionada, o termo “vírus chinês”, em uma tentativa de atribuir a culpa da pandemia ao país asiático, argumento absolutamente desmistificado pelas autoridades científicas, sobretudo, por seu teor racista.
Todo esse contexto de escalada do racismo deu origem ao “Stop Asian Hate”, uma campanha coordenada em defesa da população de origem asiática que vive nos Estados Unidos. Protestos populares, fundos de arrecadação e ações nas redes sociais têm se intensificado, em um esforço de levar informação e contrapor os ideais preconceituosos difundidos constantemente. Esse panorama nos permite atestar que o racismo contra a população asiática é algo incontestável, por isso, devemos nos questionar sobre as origens desse pensamento. Será que a pandemia serviu apenas para intensificar esse movimento de discriminação?
A resposta para esta pergunta é parte fundamental do enredo de “Minari” (Lee Isaac Chung, 2020). O filme conta a história de uma família coreano-americana, que se muda da Califórnia para uma fazenda no Arkansas, em uma tentativa de se estabelecer financeiramente. Jacob (Steven Yeun) e Monica (Han Ye-ri) trabalham em situação de subemprego numa granja local, enquanto lutam para criar seus filhos Anne (Noel Cho) e David (Alan S. Kim), que sofre de uma doença no coração.
A produção trata de temas importantes como identidade, resistência, racismo e assimilação cultural. A avó Soonja, interpretada com maestria por Yoon Yeo-jeong, tem um papel fundamental ao evidenciar os conflitos étnicos-culturais, em seu esforço para se aproximar e entender o estilo de vida de sua família, agora sob solo norte-americano.
A jornada de Jacob (Steven Yeun), que tenta a todo custo prosperar e se tornar um homem bem sucedido na década de 80, ajuda a subverter o ideal do "sonho americano” e de uma “América para todos”. Todos os obstáculos e dificuldades enfrentadas pela família são marcas das tensões de um país onde a desigualdade social opera nos campos de classe, raça e gênero.
O contexto de violência racial contra a população asiática nos Estados Unidos tem registros históricos muito antigos. A lei promulgada em 1882, que proibia a imigração indianos, filipinos, coreanos e outros países de origem asiática, sob o argumento de resguardar os empregos no país, só evidencia que esse preconceito age de forma sistêmica, evoluindo no decorrer dos anos.
No Brasil também podemos observar um panorama similar, com um discurso racista que culpabiliza a China pela pandemia, endossado por figuras do alto escalão de governo, como o presidente Jair Bolsonaro, o ex-Ministro da Educação Abraham Weintraub e o ex-Ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo. Atos que incentivam o ódio racial e evidenciam a manutenção de uma lógica discriminatória, observada em grande parte do Ocidente.
É urgente a necessidade de contrapor esses discursos racistas em um esforço conjunto de combate à campanha de desinformação difundida. Neste sentido, é muito importante destacar cada vez mais a cultura específica de todos os países do continente Asiático, dando voz, protagonismo e respeitando o local de fala deles. As soluções para essa questão só podem ser elaboradas quando os locais de poder e diálogo são divididos com aqueles diretamente atingidos pelo preconceito. Plataformas como o “Stop Asian Hate” são um exemplo importante e devem ser cada vez mais difundidos para o alcance de uma reparação histórica.
#PraCegoVer [Fotografia]: O personagem Jacob está de camisa bege xadrez e calça jeans azul, abraçado com sua filha Anne que veste um vestido bege. Ela está de mãos dadas com seu irmão David, que está no centro da fotografia. Ele veste uma camisa com listras branca, laranja, azul e bege, além de estar sorridente. David também está de mãos dadas com sua mãe, Monica, que veste camisa rosa e uma saia jeans. Ao fundo vemos uma casa com uma bandeira dos Estados Unidos que cobre toda a sua frente e tem árvores ao seu redor.
Yan Carvalho - Ciências Sociais USP
Referências Bibliográficas:
PADILHA, Alice. ‘Stop Asian Hate’: Entenda o que é e como ajudar o movimento. GQ Globo, 2021. Disponível em: <https://gq.globo.com/Noticias/noticia/2021/03/o-que-e-como-ajudar-o-movimento-stop-asian-hate.html>. Acesso em: 15 de abril de 2021
Suspeito de ataques a casas de massagem nos EUA planejava ação semelhante na Flórida. G1, 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/03/17/suspeito-de-ataques-a-casas-de-massagem-nos-eua-planejava-acao-semelhante-na-florida.ghtml>. Acesso em: 15 de abril de 2021
ORAZEM, Eloá. Ódio contra asiáticos não é novidade nos EUA, e cresce com pandemia. Brasil de fato, 2021. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2021/03/25/odio-contra-asiaticos-nao-e-novidade-nos-eua-e-cresce-com-pandemia>. Acesso em: 15 de abril de 2021
Comments