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Brasil, país da fome

Segundo dados do IBGE, o desemprego no primeiro trimestre de 2022 atinge 11,1% da população do país, aproximadamente 11,9 milhões de pessoas. Importante ressaltar que estudantes, donas de casa e outras ocupações não são considerados desempregados, portanto não entram no cálculo dos que estão procurando um trabalho. Desde antes do princípio da Pandemia do Coronavírus, as taxas de desocupação no Brasil vem crescendo e já podemos sentir suas consequências.


No começo de julho foi anunciado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que o Brasil voltou para o Mapa da Fome, ultrapassando mais de 60 milhões de pessoas que sofrem com insegurança alimentar, ou seja, não possuem ideia do quanto ou quando vão realizar a próxima refeição. O aumento do número de casos de furto famélico - quando uma pessoa furta alimentos para si e sua família- aumentou em 20% em 2021. O Brasil é um dos maiores produtores de gêneros agrícolas, porém toda essa produção é pensada e voltada para o mercado externo, enquanto brasileiros precisam roubar comida para não morrer de fome, sendo um dos reflexos da falta de empregos e do aumento exacerbado do preço dos alimentos que apesar de ser comum, ressaltando que não é normal, o preço do café ultrapassar 20 reais e o pacote do feijão chegar a quase 9, no país onde o Agro é Tec, é Pop e é tudo, Agro também é fome.


Não é novidade que o desemprego gera aumento da violência, de acordo com o Atlas da Violência de 2021, apenas entre os anos de 2018 e 2019 tivemos um aumento de 35,2% dos casos de mortes violentas com causa indeterminada, apesar do mito da Democracia Racial, sabemos que a população mais atingida pela violência é a negra, a periférica, a que se encontra nos índices de desemprego e fome, nesse país de dimensões continentais.



Fonte: Sem autor, disponível em: <https://libreflix.org/i/falcao-meninos-do-trafico> Acesso em: 24 de Julho de 2022.

#ParaTodosVerem [Imagem]: No canto esquerdo da imagem, em primeiro plano uma pessoa negra com o rosto censurado por um retângulo preto, usando uma camisa pólo amarela com detalhes em azul está segurando um fuzil. Na parte superior da imagem está escrito "MV Bill e Celso Athayde" (produtores do documentário) em azul. No centro está escrito em branco "Falcão meninos do tráfico".


Em Falcão, Meninos do Tráfico, livro e documentário de 2006, produzido pelo rapper MV Bill e seu empresário Celso Athayde junto do Centro de audiovisual da Central Única das Favelas (CUFA), é retratado o cotidiano dos Falcões, crianças e adolescentes que trabalham para o tráfico, possuem papel de vigilância e nunca dormem. Muitos dos jovens entrevistados relatam que entraram para o crime pela falta de oportunidades, afinal, quem contrataria um jovem periférico, morador de comunidade e que não teve a oportunidade de estudar em boas escolas? Onde o Estado é ausente, o tráfico se faz presente garantindo a esses meninos status, dinheiro e poder, trabalhar como falcão é a forma que encontraram para ajudar suas famílias. Como não podem dormir, muitos acabam consumindo drogas para se manterem acordados, um deles relata que cochilou e acabou apanhando da polícia, um dos entrevistados relata o sonho de trabalhar em um circo como palhaço, sendo o único sobrevivente dos 17 meninos entrevistados, todos os outros morreram vítimas do sistema que se mantém sob a pobreza e a segregação.


Os moradores de São Paulo convivem com o medo constante de sofrer algum tipo de violência ao andar nas ruas, seja esse um assalto, assédio ou agressão física. Como exemplo, durante a edição de 2022 da Virada Cultural, shows foram interrompidos por gritos nos arrastões. Mesmo fora dos grandes eventos os índices de assaltos e violência no Estado crescem cada vez mais, o aumento da defesa ao armamentismo, utiliza como argumento que armar a população diminuiria os casos de violência, porém uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais de SP, mostrou que uma vítima de assalto estando armada possui mais 56% de chance de sofrer latrocínio (roubo seguido de morte) do que uma vítima desarmada.


Na conjuntura atual vemos cada vez mais famílias morando nas ruas, pessoas passando por insegurança alimentar, aumento de todas as formas de violência, crianças encontrando no crime uma forma de sustentar suas famílias e dizer que "bandido bom é bandido morto" chega a ser cômodo, pois não somos nós que convivemos com a fome e a incerteza de quando vamos fazer a nossa próxima refeição.


Gabriela Bucalo - Bolsista do Projeto CineGRI e graduanda em Geografia pela FFLCH.



REFERÊNCIAS

IPEA, Atlas da Violência 2021. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes> Acesso em: 22 de Julho de 2022.


Sem autor. Brasil volta ao Mapa da Fome das Nações Unidas

Disponível em: <https://www.g1.globo.com/google/amp/jornal-nacional/noticia/2022/07/06/brasil-volta-ao-mapa-da-fome-das-nacoes-unidas.ghtml> Acesso em: 22 de Julho de 2022.


Sem autor. Homem preso após roubar comida em Salvador se emociona: 'Estou desesperado, morrendo de fome' <https://www.g1.globo.com/google/amp/profissao-reporter/noticia/2022/07/15/homem-preso-apos-roubar-comida-em-salvador-se-emociona-estou-desesperado-morrendo-de-fome.ghtml> Acesso em: 22 de Julho de 2022.

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