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Posts do blog (120)

  • A mulher da casa abandonada: um Brasil colonial permeado de violências e exclusões

    #ParaTodosVerem: uma mulher com a cara pintada de branco e os braços estendidos na janela de uma casa abandonada. Disponível em: https://www.opovo.com.br/_midias/jpg/2022/07/07/818x460/1_mulher_casa_abandonada_na_janela-19153894.jpg Se por um lado a globalização, propiciou um processo de expansão econômica, social e política, aproximando diversos países e nações ao longo do território de todo o globo, ela também escancarou as desigualdades sociais de todo o mundo. Quem acompanhou o noticiário das últimas semanas, deve ter ouvido falar sobre Margarida Bonetti, ex-esposa de René Bonetti, que ganhou repercussão nacional e internacional graças ao podcast da Folha de São Paulo, que carrega o nome de “A mulher da casa abandonada”. Em um primeiro momento acreditamos se tratar de uma história fictícia ao olhar pela primeira vez para o podcast, mas quando damos play, a história se torna real e nos deixa estarrecidos. Margarida Bonetti, que se mudou junto de seu marido para os Estados Unidos há 22 anos atrás, é presenteada pelo pai com uma empregada negra da casa, analfabeta, mas que já trabalhava na mansão há muitos anos. O que não esperamos é que o pior estava por vir, a nível de interesse para quem não ouviu o podcast deixei o link < https://open.spotify.com/show/0xyzsMcSzudBIen2Ki2dqV>, e também faço um breve resumo: ao se mudarem para os EUA, Margarida e René Bonetti começam a violentar física e psicologicamente a emprega doméstica deles, escravizam-na por mais de vinte décadas. Ela foi torturada, recebeu sopa quente no rosto, arrancaram seus cabelos, teve 7 tumores na barriga e outras feridas que não foram tratadas e foi negado auxílio hospitalar, além também de ser proibida de comer a mesma comida de seus patrões, entre muitas outras violências sofridas. Ela foi escravizada durante todo esse tempo. Trago esta história, porque ainda vivemos em um Brasil onde há uma elite que parou no século XVIII e se recusa a evoluir, uma elite cujo comportamento remonta ao período da escravização, onde pessoas negras eram vistas como objetos comercializáveis, desumanizados. Margarida Bonetti é o retrato do que há de pior na elite paulistana, filha de um dos maiores médicos do Brasil, com uma herança milionária, fazendas e imóveis que ultrapassam milhões de reais, perversa e sádica, ela não dobrou esforços para nos mostrar como vivemos em um país desigual e violento, um Brasil com feridas não cicatrizadas. Um país tão desigual que ainda uma pessoa, um ser humano, em pleno século XXI pode ser visto como objeto, um lugar em que a elite paulistana não cessa em querer mostrar seu poder não somente financeiro, mas opressivo e físico da pior maneira possível. Uma elite que aproveita da desigualdade e todos os seus privilégios para tirar a humanidade de uma pessoa. Visto que em São Paulo, quem mora em Paraisópolis, por exemplo, uma das maiores favelas da cidade, vive em média 10 anos a menos do que os moradores do Morumbi, ou até mesmo de Higienópolis, onde atualmente mora Margarida Bonetti, bairros estes, nobres da capital paulistana, de acordo com o Mapa da Desigualdade, da ONG Rede Nossa São Paulo. Como também, além da questão financeira e de IDH das regiões, temos outros problemas ligados à exclusão e desigualdade social: a falta de infraestrutura urbana básica em bairros pobres, o que também é fator preponderante a ser comentado, por fazer com que o IDH despenque nesses lugares. A falta de serviços básicos de saneamento como água, luz e gás são frequentes nesses lugares, que também costumam estar distantes do centro da cidade, dificultando o acesso de pessoas que vivem nessas regiões mais afastadas. A falta do acesso à educação, a dificuldade de locomoção dessa população, a deixa mais vulnerável e propensa a aceitar qualquer tipo de trabalho para conseguir sobreviver. Assim como aconteceu com a empregada de Margarida Bonetti, esta que aproveitando de sua posição na sociedade e as problemáticas da desigualdade social no país, escravizou uma mulher negra. #ParaTodosVerem: cena do filme “Que horas ela volta?”. Na imagem vê-se comida, bebidas e copos em cima de uma mesa de madeira, sentados em sua volta está os patrões e seu filho. De de pé parado em volta deles está a empregada doméstica que segura um prato e ao seu lado sua filha que segura um buquê de rosas vermelhas. Deixo aqui a minha recomendação de filme, que ilustra muito bem em que Brasil estamos vivendo, e para refletirmos em que tipo de sociedade queremos viver e também continuar construindo, “Que horas ela volta?” narra a história de Val, uma empregada doméstica que trabalha em uma mansão no bairro Morumbi, e quando sua filha Jéssica vem do interior do Nordeste passar as férias na residência, começa a questionar as relações presentes naquele local, a partir daí tudo muda. Este filme escrito e dirigido por Anna Muylaert mostra as Margaridas Bonettis do nosso país, e como são tratadas as pessoas menos favorecidas economicamente. Fred Zeffirelli, ator, criador de conteúdo digital, e estudante de Artes Cênicas, ECA-USP. REFERÊNCIAS: LISSARDY, Gerardo. Por que a América Latina é a 'região mais desigual do planeta'. BBC,2020. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51406474#:~:text=A%20Am%C3%A9rica%20Latina%20foi%20apontada,PNUD)%2C%20lan%C3%A7ado%20em%20dezembro> Acessado em 25/07/2022 Infraestrutura urbana. Wikipedia, 2022. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Infraestrutura_urbana> Acessado em: 25/07/2022

  • Brasil, país da fome

    Segundo dados do IBGE, o desemprego no primeiro trimestre de 2022 atinge 11,1% da população do país, aproximadamente 11,9 milhões de pessoas. Importante ressaltar que estudantes, donas de casa e outras ocupações não são considerados desempregados, portanto não entram no cálculo dos que estão procurando um trabalho. Desde antes do princípio da Pandemia do Coronavírus, as taxas de desocupação no Brasil vem crescendo e já podemos sentir suas consequências. No começo de julho foi anunciado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que o Brasil voltou para o Mapa da Fome, ultrapassando mais de 60 milhões de pessoas que sofrem com insegurança alimentar, ou seja, não possuem ideia do quanto ou quando vão realizar a próxima refeição. O aumento do número de casos de furto famélico - quando uma pessoa furta alimentos para si e sua família- aumentou em 20% em 2021. O Brasil é um dos maiores produtores de gêneros agrícolas, porém toda essa produção é pensada e voltada para o mercado externo, enquanto brasileiros precisam roubar comida para não morrer de fome, sendo um dos reflexos da falta de empregos e do aumento exacerbado do preço dos alimentos que apesar de ser comum, ressaltando que não é normal, o preço do café ultrapassar 20 reais e o pacote do feijão chegar a quase 9, no país onde o Agro é Tec, é Pop e é tudo, Agro também é fome. Não é novidade que o desemprego gera aumento da violência, de acordo com o Atlas da Violência de 2021, apenas entre os anos de 2018 e 2019 tivemos um aumento de 35,2% dos casos de mortes violentas com causa indeterminada, apesar do mito da Democracia Racial, sabemos que a população mais atingida pela violência é a negra, a periférica, a que se encontra nos índices de desemprego e fome, nesse país de dimensões continentais. Fonte: Sem autor, disponível em: Acesso em: 24 de Julho de 2022. #ParaTodosVerem [Imagem]: No canto esquerdo da imagem, em primeiro plano uma pessoa negra com o rosto censurado por um retângulo preto, usando uma camisa pólo amarela com detalhes em azul está segurando um fuzil. Na parte superior da imagem está escrito "MV Bill e Celso Athayde" (produtores do documentário) em azul. No centro está escrito em branco "Falcão meninos do tráfico". Em Falcão, Meninos do Tráfico, livro e documentário de 2006, produzido pelo rapper MV Bill e seu empresário Celso Athayde junto do Centro de audiovisual da Central Única das Favelas (CUFA), é retratado o cotidiano dos Falcões, crianças e adolescentes que trabalham para o tráfico, possuem papel de vigilância e nunca dormem. Muitos dos jovens entrevistados relatam que entraram para o crime pela falta de oportunidades, afinal, quem contrataria um jovem periférico, morador de comunidade e que não teve a oportunidade de estudar em boas escolas? Onde o Estado é ausente, o tráfico se faz presente garantindo a esses meninos status, dinheiro e poder, trabalhar como falcão é a forma que encontraram para ajudar suas famílias. Como não podem dormir, muitos acabam consumindo drogas para se manterem acordados, um deles relata que cochilou e acabou apanhando da polícia, um dos entrevistados relata o sonho de trabalhar em um circo como palhaço, sendo o único sobrevivente dos 17 meninos entrevistados, todos os outros morreram vítimas do sistema que se mantém sob a pobreza e a segregação. Os moradores de São Paulo convivem com o medo constante de sofrer algum tipo de violência ao andar nas ruas, seja esse um assalto, assédio ou agressão física. Como exemplo, durante a edição de 2022 da Virada Cultural, shows foram interrompidos por gritos nos arrastões. Mesmo fora dos grandes eventos os índices de assaltos e violência no Estado crescem cada vez mais, o aumento da defesa ao armamentismo, utiliza como argumento que armar a população diminuiria os casos de violência, porém uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais de SP, mostrou que uma vítima de assalto estando armada possui mais 56% de chance de sofrer latrocínio (roubo seguido de morte) do que uma vítima desarmada. Na conjuntura atual vemos cada vez mais famílias morando nas ruas, pessoas passando por insegurança alimentar, aumento de todas as formas de violência, crianças encontrando no crime uma forma de sustentar suas famílias e dizer que "bandido bom é bandido morto" chega a ser cômodo, pois não somos nós que convivemos com a fome e a incerteza de quando vamos fazer a nossa próxima refeição. Gabriela Bucalo - Bolsista do Projeto CineGRI e graduanda em Geografia pela FFLCH. #ViolênciaUrbana #Fome #InsegurançaAlimentar #MVBill #Falcão REFERÊNCIAS IPEA, Atlas da Violência 2021. Disponível em: Acesso em: 22 de Julho de 2022. Sem autor. Brasil volta ao Mapa da Fome das Nações Unidas Disponível em: Acesso em: 22 de Julho de 2022. Sem autor. Homem preso após roubar comida em Salvador se emociona: 'Estou desesperado, morrendo de fome' Acesso em: 22 de Julho de 2022.

  • Afinal, Os Simpsons realmente estão prevendo o fim do mundo?

    Recentemente o mundo tem se deparado com um novo possível surto, a varíola dos macacos, que está sendo uma pulga atrás da orelha para a Organização Mundial da Saúde, devido ao fato de que alguns casos estão sendo confirmados ao redor do mundo nas últimas semanas. Uma imagem tem chamado a atenção nas redes sociais. Na qual a série de televisão Os Simpsons pode ter previsto essa suposta nova pandemia. #ParaTodosVerem: Duas imagens coloridas divididas com um título em letras vermelhas com a citação “Monkeypox sendo exibido nos Simpsons (faz tempo) tudo é planejado com antecedência”, seguido por um emoticon de um triângulo vermelho e um olho. Abaixo, duas imagens de episódios dos Simpsons. Do lado esquerdo Homer está sentado no sofá bebendo cerveja com um pequeno macaco de colete azul. E do lado direito ele está de cueca com vários pontos rosas ao redor do corpo. Disponível em: https://twitter.com/Gurgel_II/status/1530026036146094091 Embora especialistas afirmam que a varíola dos macacos não é altamente contagiosa e que dificilmente provocaria uma pandemia global, e ignorando o fato de que a imagem retrata dois episódios totalmente diferentes da 9º e 17º temporada, não é de hoje que este desenho animado tem causado euforia em algumas pessoas com suas supostas previsões do futuro e que seus criadores estão por trás de algo bem maior do que conhecemos. Um outro exemplo bem famoso é do episódio exibido no ano 2000 Bart no Futuro, da décima primeira temporada, onde Lisa (agora presidente dos Estados Unidos) menciona que o país enfrenta uma crise financeira após o mandato do presidente Trump. Em março de 2016, o roteirista do episódio, Dan Greaney, concedeu uma entrevista ao The Hollywood Reporter, onde afirmava que a ideia era retratar o país enlouquecendo, de que esse seria o único cenário possível antes de chegar ao fundo do poço, segundo ele mesmo. #ParaTodosVerem: Imagem colorida em que Lisa Simpsons, já adulta e eleita presidente dos EUA, está sentada em sua mesa. Ao lado dela, de pé, estão dois de seus assessores. Um deles sendo seu amigo de infância Milhouse, já crescido e careca. De frente para ela há mais dois assessores, sentados. Abaixo, uma legenda em inglês em letras grandes, que traduzida seria: “como vocês sabem, herdamos uma grande crise orçamentária do Presidente Trump.” Disponível em: https://twitter.com/jonerlichman/status/843554093310365696?lang=da Além do episódio Marge vai para Cadeia, do ano de 1993, da 4º temporada. Onde a cidade de Springfield é infectada pela “Gripe de Osaka” uma doença fictícia originária do Japão. Não demorou muito para associarem este episódio com a pandemia do novo coronavírus que ocorreu, e ainda ocorre, nos últimos dois anos. #ParaTodosVerem: quatro painéis de imagens com cenas de episódios dos Simpsons. Com o título em espanhol, que traduzido seria: Ano 1993 4º temporada episódio 21. O primeiro painel com uma imagem com dois funcionários de uma fábrica no Japão, em que um deles tosse uma nuvem verde com pontos vermelhos em cima de uma caixa endereçada para a residência da família Simpson; o segundo com Homer abrindo a caixa e ficando chocado ao receber a nuvem na sua cara; o terceiro com diretor Skinner também abrindo uma encomenda e recebendo a nuvem na cara, e o quarto com o apresentador Kent Brockman apresentado o seu programa jornalístico com um quadro com letras escritas "Coronavírus" em amarelo, ao lado da foto de um gato. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/03/03/verificamos-simpsons-previram-chegada-novo-coronavirus/ Bem, surtos de doenças não são algo tão anormal. Bastou um vírus tão contagioso quanto a gripe comum para que se espalhasse rapidamente pelo globo, e dado aos nossos costumes, nem sempre tão higiênicos, não seria uma grande surpresa que tivesse tomado essas proporções sem os devidos cuidados, ainda mais sendo ignorada pelo nosso atual governo. No caso da imagem que circula pelas redes, mostra-se dois episódios diferentes e com uma adulteração. #ParaTodosVerem: duas imagens coloridas quase idênticas de Kent Brockman apresentando seu programa. Uma localizada na parte superior com letras vermelhas escrito “montagem” onde se vê um quadro ao lado de Kent com as palavras “Corona Vírus” em amarelo sobre outras duas palavras inteligíveis em vermelho, ao lado da foto de um gato. Localizada na parte inferior, a mesma imagem, agora sem as letras em amarelo, onde é possível ler as palavras “Apocalypse Meow” em vermelho, com letras verdes na parte de baixo escrito “Original”. No meio, o logotipo do site E-farsas, escrito “Acabando com fake News desde 2002” em baixo. Disponível em: https://www.e-farsas.com/os-simpsons-previram-a-epidemia-do-coronavirus-em-1993.html Vemos que todos esses casos ocorrem por um viés de confirmação, onde indivíduos buscam determinados elementos para provarem suas crenças ou ideias. Na maioria, distorcendo informações e imagens só para apoiarem seus pontos de vista. E convenhamos, a animação está no ar há mais de trinta anos. Se trata de uma sátira ao estilo de vida dos americanos. Eventualmente, alguma coisa que eles estivessem retratando poderia acontecer em algum momento na vida real. Mas a questão que deveria realmente nos preocupar, não é de que o programa está fazendo premonições sobre o nosso futuro, mas que a realidade está cada vez mais se parecendo com um desenho animado. Matheus Cosmo, graduado em Rádio e Tv. #Simpsons, #Conspirações, #FakeNews, #CoronaVírus, #VarioladoMacaco Referências Bibliográficas: MORAES, Maurício. #Verificamos: É falso que Os Simpsons previram a chegada do novo coronavírus. Lupa, Folha de São Paulo. 2020. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/03/03/verificamos-simpsons-previram-chegada-novo-coronavirus/ acesso em 30/05/2022 LOPES, Gilmar.Os Simpsons previram em 1993 a epidemia do coronavírus?. E-Farsas, 2020. Disponível em: https://www.e-farsas.com/os-simpsons-previram-a-epidemia-do-coronavirus-em-1993.htm acesso em 30/05/2022

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  • Colabore Conosco | Projeto CineGRI

    Colabore conosco Para atingir seu propósito de promoção do diálogo sobre geopolítica e relações internacionais a partir da linguagem cinematográfica para a população, o CineGRI incentiva que interessados colaborem para o desenvolvimento do projeto de diversas formas. ​ Caso queira integrar o projeto colaborando com suas atividades, estão abertas as inscrições para vagas na redação do Blog do CineGRI. A função não se limita a estudantes da Universidade de São Paulo, recepcionando todas e todos que tenham experiência ou interesse em temas da geopolítica e relações internacionais e desejam exercitar a escrita. Todas as informações podem ser acessadas clicando no botão abaixo: ​ ​ Caso conheça escolas e instituições diversas que tenham interesse em instituir parcerias, entre em contato conosco. Qualquer outra contribuição que acredite ser pertinente para o projeto, entre também em contato. Saiba como

  • Vest | Projeto CineGRI

    Pandemia, desemprego e saúde mental: dá pra se adaptar? O filme Os sentidos do amor (David Mackenzie, 2011) muito tem em comum com o momento pelo qual estamos passando. Nele, uma epidemia desconhecida assola o mundo da noite para o dia. Ninguém conhece precedentes da doença, não há cura, os médicos não sabem como tratar, ela é contagiosa e, dentro de pouco tempo, está sendo espalhada por todo o planeta. As pessoas sentem emoções muito fortes e, quando isso passa, elas não têm mais um dos cinco sentidos. A primeira emoção é uma tristeza profunda: choro, desesperança, sensação intensa de vazio; pessoas tendo ataques de choro no meio da rua, gritando e desesperadas. Quando passa, todos os que tiveram os sintomas perdem o olfato. Isso acontece progressivamente até que todos os sentidos sejam eliminados. ​ Mesmo assim, em meio ao caos, o filme tem uma mensagem positiva: um casal é o plano de fundo da narrativa e eles aprendem, a cada vez que perdem um sentido, a se adaptar. Há uma bela “moral da história” sobre adaptação e superação das adversidades. Entretanto, é necessário tomar cuidado com essa narrativa de que encontrar uma solução depende única e exclusivamente dos indivíduos – o famoso “dar um jeito”. Calma! Não é que não tenhamos que procurar alternativas às situações nas quais a pandemia nos colocou. Muito menos que não precisamos encontrar meios de contornar tudo o que está acontecendo. Mas precisamos pensar a quem é dada a oportunidade de adaptação, com cautela, a fim de não individualizar questões coletivas e de responsabilidade externa. Quem são os cidadãos eleitos para ocupar cargos de governança e responsáveis por gerir o país dentro de uma crise – seja ela financeira, de saúde ou qualquer outro tipo? O que essas pessoas estão fazendo? Um estudo realizado pela Pnad Covid-19 mostra que, em 4 meses, o desemprego cresceu 27,6% no Brasil [1]. Abaixo, podemos conferir os dados: Tendo em vista essas informações, é justo pedir dessas pessoas que apenas “se adaptem”? No dia 4 de novembro, foi votado no Codefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador) o aumento da quantidade de parcelas de pagamento do seguro-desemprego para quem foi demitido durante a pandemia [2]. O resultado? Negativo. Não apenas o Conselho votou pelo não pagamento de mais parcelas, como também colocou diversos trabalhadores em uma encruzilhada: quem foi demitido no início da pandemia usufruiu do seguro-desemprego, mas agora ficou sem, não pode mais solicitar o auxílio emergencial, pois o prazo terminou em julho. Como ficam esses trabalhadores? Como se pode cobrar deles algum tipo de adaptação quando não há emprego e quando não se pode nem sair de casa de modo seguro para ganhar dinheiro em ocupações informais? Os impasses não acabam aí. Além do desemprego, a pandemia acarretou uma série de problemas emocionais que atingem as mais diversas pessoas, de diferentes classes, cores, idades e gêneros. Estresse, insatisfação, tristeza, mal estar e noites mal dormidas são apenas alguns dos sintomas que a população tem enfrentado nos últimos meses. Abaixo, temos informações mais detalhadas sobre isso: É perceptível que boa parte da ansiedade causada se dá pela preocupação com a instabilidade financeira gerada pelo contexto em que estamos inseridos – algo que podemos ver na série Distanciamento Social (Hilary Weisman Graham e Jenji Kohan, 2020, disponível na Netflix). No episódio “Poderíamos todos navegar juntos pelo oceano”, uma mãe, que é cuidadora de uma senhora, precisa continuar trabalhando. Entretanto, como as escolas estão fechadas, ela não tem com quem deixar sua filha. A solução encontrada é instalar câmeras dentro do apartamento e checar a menina constantemente pelo celular. Porém, em determinado momento, a clínica onde a senhora fica entra em quarentena – não será possível sair ou entrar durante duas semanas. A mãe se vê, então, na situação de precisar decidir entre seu trabalho, de cujo salário ela precisa, e ficar com sua filha. A solução encontrada é deixar a menina com a filha da senhora, que é professora. O convívio das duas não começa muito bem – a mulher, que mantém bem sua figura de “independente e sem filhos”, não consegue lidar com uma criança interrompendo suas aulas, que já não iam bem devido à pouca colaboração e interesse dos alunos. Nesses 20 minutos de episódio, é possível identificar várias situações com as quais nos relacionamos: o medo do desemprego, ter que abrir mão do isolamento social seguro na sua própria casa porque seu trabalho não comporta home office, a dificuldade de dividir o mesmo espaço constantemente com as mesmas pessoas, as adversidades que tanto professores quanto alunos encontram no sistema remoto, dentre outros. Delas, fiquemos apenas com o desemprego. Se essa mãe não tivesse encontrado alguém para cuidar de sua filha, o que precisaria fazer? Renunciar à sua única fonte de renda? Aqui, foi possível encontrar uma alternativa e se adaptar, mas e quando não dá? Como está a saúde mental dessa mãe longe da filha durante 2 semanas? E como ficaria caso estivesse com a criança, mas desempregada? O Brasil passa por um delicado momento em sua história e, infelizmente, milhões de brasileiros estão abandonados à própria sorte. A crise não se vê apenas no aumento do desemprego ou no preço do dólar, mas também nas diversas pesquisas relacionadas à saúde mental apontando para um povo cansado, triste, estressado e sem esperança de melhora. Segundo pesquisa realizada pelo King’s College, há 17 anos, durante a pandemia de SARS, os casos de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático aumentaram em 30% dentre os indivíduos que cumpriram quarentena na China, o país mais afetado. Como falar em adaptação nesse cenário? Muito se fala - merecidamente - no heroísmo de nossos médicos e enfermeiros nas linhas de frente, profissionais essenciais nesse momento. Mas quem cuida dos nossos desempregados e depressivos? É deles a culpa e o fardo da adaptação? Referências Bibliográficas [1] CAMPOS, Ana Cristina. Desemprego subiu 27,6% em quatro meses de pandemia. Dados são da pesquisa Pnad Covid-19 do IBGE . Disponível em: Acesso: 08/11/2020 [2] Conselho rejeita parcelas extras do seguro-desemprego na pandemia: Apoiada por representantes sindicais, a proposta não contou com os votos dos empregadores e do governo. Disponível em: . Acesso: 08/11/2020. BIERNATH, André. A epidemia oculta: saúde mental na era da Covid-19. Na esteira do coronavírus e seus desdobramentos, transtornos psicológicos como ansiedade e depressão representarão uma segunda onda de estragos à saúde. Disponível em: . Acesso: 08/11/2020. HARTMANN, Paula Benevenuto. "Coronafobia": o impacto da pandemia de Covid-19 a saúde mental. Disponível em: Acesso: 08/11/2020.

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