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Cicatrizes, marcas e lutas: a trajetória de sobreviventes


#PraCegoVer [FOTOGRAFIA]: Foto com tom avermelhado de uma parede. O lado esquerdo tem 4 janelas, na janela do canto inferior esquerdo há um cartaz com a frase “posso me identificar?” . Ao lado da última janela, no canto inferior direito há a mensagem projetada “#FavelaQuerPaz” em letras garrafais brancas que se sobrepõe à uma cruz pregada. Fonte: Cleber Araujo e Cia. Semearte.

#PraCegoVer [FOTOGRAFIA]: Foto com tom avermelhado de uma parede. O lado esquerdo tem 4 janelas, na janela do canto inferior esquerdo há um cartaz com a frase “posso me identificar?” . Ao lado da última janela, no canto inferior direito há a mensagem projetada “#FavelaQuerPaz” em letras garrafais brancas que se sobrepõe à uma cruz pregada. Fonte: Cleber Araujo e Cia. Semearte.


São Paulo, 1 de dezembro de 2019. A data marca uma ação desastrosa promovida pela Polícia Militar em Paraisópolis, comunidade da capital paulista. De acordo com moradores, os policiais fecharam todas as ruas e usaram munições químicas como forma de reprimir o baile funk que acontecia no local, gerando tumulto e fazendo com que nove jovens, entre 14 e 23 anos, fossem pisoteados e mortos.


Durante toda a repercussão e cobertura do caso foi comum observar diversos comentários aprovando a ação dos militares, muitos desses se apoiando nos argumentos de que esses bailes, supostamente, promovem a criminalidade, o tráfico e degeneração dos jovens. Esse tipo de pensamento apenas evidencia todo o preconceito enfrentado pelo funk e todas as demais formas de manifestações culturais vindas da periferia.


Branco sai, preto fica. A frase que dá nome ao filme de Adirley Queirós (2015) foi dita por um policial no ano de 1986, numa ação que tinha o intuito de acabar com o baile realizado em Ceilândia - DF. O resultado da invasão: um jovem paraplégico e outro, com a perna amputada, ambos negros e moradores da periferia. O primeiro, vítima de um tiro nas costas e o segundo, brutalmente atropelado e esmagado por um cavalo da tropa de choque.


As duas vítimas da violência do Estado brasileiro protagonizam o longa-metragem, que mistura os gêneros de documentário e ficção científica. O filme segue três linhas do tempo, se move ao passado para narrar todos os acontecimentos reais na noite da tragédia, se passa em um presente distópico dominado por um Estado autoritário e dá indícios de um futuro ainda mais perturbador.


“Marquim” (Marquim do Tropa) começa por descrever todo o contexto do baile e a sua relação com a comunidade a partir de um relato pessoal extremamente detalhado e sentimental. Sua performance impressiona, principalmente se levarmos em consideração que esse foi seu primeiro trabalho como ator. “Sartana” (Dilmar Durães), que perdeu a perna no ocorrido, também se destaca tanto no tom documental, quanto na dramaticidade exigida pelo roteiro ficcional da produção.


“Dimas Crava lanças” (Schokito) é representado com um agente vindo do futuro com a missão de coletar provas dos crimes cometidos pelos policiais no fatídico dia como forma de processar o Estado brasileiro criminalmente. Já “Marquim” e “Sartana” passam a desenvolver um plano em conjunto para atacar a capital Brasília e derrubar o sistema vigente.


Diversas críticas às políticas do Estado são observadas durante o decorrer do filme, a “Policia do bem estar social”, representada como extremamente controladora e invasiva, pode ser interpretada como uma alusão aos longos anos de governos social-democratas no país, que nunca tomaram atitudes concretas para combater a violência policial contra negros e pobres. O futuro distópico é representado como um governo ainda mais autoritário, gerido por uma “aliança cristã”, um possível paralelo com a bancada evangélica do congresso brasileiro que defende pautas de segurança pública nocivas para as populações periféricas.


O filme evidencia que o contexto de repressão à cultura periférica é algo histórico e sistêmico. Nosso contexto atual permite afirmar que essa dinâmica permanece, muitas vezes, com amparo de parte da sociedade e como política de Estado. O longa também nos permite enxergar a importância de atitudes concretas e a luta conjunta pela defesa da cultura e todas as formas de manifestação vindas da periferia.


Referências


HENRIQUE, Alfredo. “Veja quem são os jovens mortos em Paraisópolis”. Agora - São Paulo,

2019. Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2019/12/veja-quem-sao-os-jovens-mortos-em-paraisopolis.shtml. Acesso em: 05/01/2020.


“O governo Dilma é extremamente repressivo”. Carta Capital, 2015. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/o-governo-dilma-e-extremamente-repressivo-4045/. Acesso em: 05/01/2020.


OWADA, Maurício. “Branco Sai, Preto Fica e a Ficção Científica. Revista Moviment, 2017. Disponível em: https://revistamoviement.net/branco-sai-preto-fica-e-a-fic%C3%A7%C3%A3o-cient%C3%ADfica-8564f4f29736. Acesso em: 05/01/2020.



Yan Carvalho

Graduando em Ciências Sociais (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI


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