Qualquer um consegue trabalhar e economizar US$100 mil para viajar a Marte. Essa foi a declaração dada por Elon Musk em entrevista ao canal “TED”. O CEO da SpaceX e protagonista do novo documentário da Netflix, “De Volta Ao Espaço”, aumentou sua riqueza em 129% ao ano e se tornou o homem mais rico do mundo durante a Pandemia de
Covid-19. Em contraponto, a previsão da Organização Internacional do Trabalho é de que a pandemia deixará mais de 200 milhões de pessoas desempregadas no mundo, evidenciando as diferentes condições das classes frente ao cenário pandêmico.
#ParaTodosVerem [fotografia]: Na imagem possui uma edificação, que em evidência está o logo da empresa automotiva "Tesla", que tem como um dos seus fundadores o bilionário Elon Musk. No plano de frente, um tanto de desfocado, carros estacionados como em um estacionamento, que refletem a cor do céu em um entardecer.
O documentário nos mostra rapidamente como Musk é uma figura polêmica e excêntrica. Ao fazer afirmações como essa, o empresário fecha os olhos para o outro lado da balança: a classe trabalhadora que carrega nas costas todas as mazelas causadas por essa crise sanitária. O bilionário e seus companheiros de classe não são os que sentem o impacto da alta dos preços de alimentos, combustíveis e medicamentos, e, certamente, não são os afetados pelo aumento das taxas de desemprego em diversos países. Ao dizerem que “qualquer um pode ficar rico” ou que basta o trabalhador economizar dinheiro para conseguir acumular uma fortuna, os bilionários incentivam uma meritocracia inexistente para os trabalhadores ao mesmo tempo em que lucram com a força de trabalho deles.
#ParaTodosVerem [fotografia]: No centro da imagem existe uma cesta de mercado cheia de alimentos, sendo eles alface, abóbora, berinjela, pimentão e mamão. Essa cesta é segurada por um homem de camiseta branca com uma listra azul e outra vermelha. No canto direito da imagem existem batatas e pimentões vermelhos e verdes. Ao fundo, desfocado, há limões.
http://site.cdljuazeirodonorte.org.br/alta-de-alimentos-pode-puxar-precos-de-outros-segment os-em-2021/
Enquanto 493 novos bilionários surgiam no cenário mundial, a população mais pobre foi obrigada a lidar com a redução da renda familiar. No Brasil, o número de desempregados foi maior entre os trabalhadores informais e pessoas com fundamental incompleto. O número de pessoas empregadas nessa faixa da população caiu 17% em 2020, mas o preço dos alimentos subiram 28%, fazendo com que muitas famílias fossem obrigadas a enfrentar a realidade da fome, diversas vezes recorrendo a comprar ossos ou produtos vencidos no mercado. Boa parte da população brasileira deixou de ter acesso ao saneamento básico, à alimentação de qualidade, à educação, à saúde e ao lazer. Ao mesmo tempo, a classe baixa foi a mais exposta ao vírus, sendo obrigada a encarar ônibus lotados e trabalho presencial. O mesmo não aconteceu com a classe alta, que nunca deixou de ter acesso a seus direitos e privilégios, podendo escolher onde e quando se expor ao coronavírus.
É evidente que existem duas pandemias no Brasil e no mundo: a pandemia na qual os bilionários ficam mais ricos e a outra, na qual a classe baixa fica ainda mais pobre.
Enquanto Elon Musk está preocupado com a ida a Marte, a classe trabalhadora está preocupada com a alimentação da semana e se vê obrigada a se sujeitar a condições cada vez mais precárias de trabalho para ter o mínimo, ou menos que isso.
Mariana Monteiro, Geografia - USP.
TEMPO, O. Elon Musk diz que 'qualquer um' consegue economizar R$ 465 mil para ir a Marte. O tempo, 2022. Disponível em:
<https://www.otempo.com.br/mundo/elon-musk-diz-que-qualquer-um-consegue-economizar- r-465-mil-para-ir-a-marte-1.2656132>. Acesso em: 19 de abril de 2022.
NACIONAL, JORNAL. Efeitos da pandemia na renda dos brasileiros mudam negociações do aluguel. G1, 2021. Disponível em:
<https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/10/06/efeitos-da-pandemia-na-renda-dos- brasileiros-mudam-negociacoes-do-aluguel.ghtml>. Acesso em: 19 de abril de 2022.
O GLOBO, AGÊNCIA. Pandemia deixará mais de 200 milhões sem emprego no mundo até 2022, alerta OIT. IG Economia, 2021. Disponível em:
<https://economia.ig.com.br/2021-06-02/pandemia-desemprego-200-milhoes-oit.html>. Acesso em: 19 de abril de 2022.
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