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Para além da ficção: uma análise sobre as doenças mentais e a sociedade


#PraCegoVer [FOTOGRAFIA]: No centro da imagem, a personagem Nina (Natalie Portman) se encara no espelho. Ela está usando uma blusa branca, um casaco lilás e seu cabelo está preso em um coque alto. É possível ver a imagem de Nina refletida múltiplas vezes no espelho. Fonte: http://redeglobo.globo.com/novidades/filmes/noticia/2016/09/corujao-tem-natalie-portman-no-premiado-cisne-negro-segunda.html


A pandemia do coronavírus afetou profundamente a saúde mental de crianças, jovens e adultos. Durante o primeiro semestre de 2020, 40% dos brasileiros se sentiram tristes ou deprimidos com frequência e 53% experimentaram sentimentos de nervosismo ou ansiedade regularmente [1]. Esses dados chamam atenção para a questão das doenças mentais, que por muito tempo foram tratadas como tabus sociais. Embora a pandemia tenha servido como agravante, os transtornos psicológicos eram uma realidade para muitos indivíduos antes mesmo da disseminação da Covid-19. Infelizmente, o preconceito ainda é muito recorrente quando se fala sobre doenças como depressão, ansiedade ou transtorno afetivo bipolar, sendo urgente uma conscientização social para que todos possam ter sua vivência e seus direitos respeitados.


Para que seja possível um debate amplo sobre o tema, é necessário compreender o que são doenças mentais. Essas patologias envolvem uma combinação de mudanças no pensamento, nas emoções e no comportamento. Uma reportagem escrita por Luana Viana e veiculada no site do Dr. Drauzio Varella ressalta que “A maioria das doenças mentais pode ser tratada de maneira eficiente quando existe o diagnóstico preciso e os pacientes são inseridos em um ambiente acolhedor e social. Tratamentos evoluem continuamente, mas no que concerne ao acolhimento, cabe à sociedade como um todo reconhecer cada indivíduo como cidadão e ajudar a acabar com a discriminação e preconceito tão enraizados em cada um de nós.”


“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.” A partir desse trecho da canção Dom de Iludir, é possível continuar a discussão sobre o tema. Embora o desenvolvimento de transtornos mentais englobe múltiplos fatores, esses casos são constantemente encarados como fraqueza pessoal ou frescura. Isso deriva de uma visão equivocada que desconsidera as particularidades de cada um, afinal vidas aparentemente perfeitas podem ocultar angústias, medos e inseguranças. O filme Cisne Negro (Darren Aronofsky, 2010) retrata essa realidade por meio da história de Nina (Natalie Portman), bailarina que almeja o papel principal na releitura da apresentação O Lago dos Cisnes promovida pela Companhia de Balé de Nova York. Apesar de sua carreira estar no auge, a personagem passa a vivenciar crises de alucinações e perseguição que abalam profundamente sua saúde mental. Assim, a obra propõe um debate acerca do limite tênue entre realidade e devaneio, dedicação e obsessão, sanidade e insanidade. Em suma, é importante combater o julgamento implacável e lembrar que o indivíduo não deve ser ridicularizado por sua condição.


#PraCegoVer [FOTOGRAFIA]: A imagem é composta por duas fotos em sequência. A primeira foto mostra Forrest Gump (Tom Hanks) sentado em um banco de madeira. Já a segunda foto mostra Forrest conversando com uma mulher que está sentada nesse mesmo banco. A imagem apresenta uma legenda em amarelo que declara: “Minha mãe dizia que a vida é como uma caixa de bombons... Você nunca sabe o que vai encontrar.” Fonte: https://www.legendasamarelas.com/2020/10/frases-forrest-gump.html


Além do mais, as doenças mentais não devem ser encaradas como uma condenação. Com o diagnóstico e o tratamento adequados, é possível atenuar o sofrimento causado por esses transtornos. Dessa forma, o indivíduo pode desenvolver todas as suas capacidades e ter uma vida venturosa (marcada por alguns momentos de infelicidade, como qualquer outra). Por exemplo, o filme Forrest Gump – O Contador de Histórias (Robert Zemeckis, 1994) retrata uma história bem diferente daquela vivenciada por Nina, personagem mencionada no parágrafo anterior. O protagonista Forrest Gump (Tom Hanks) passa por momentos inusitados ao longo da obra, entre os quais estão a sua participação na Guerra do Vietnã, o seu encontro com Elvis Presley e John Lennon, além da sua famosa corrida pelos Estados Unidos. Apesar de não haver menção direta ao assunto, Forrest apresenta um diagnóstico muito semelhante à Síndrome de Asperger, condição que afeta principalmente a comunicação e a interação social. Assim, o filme retrata a convivência com os transtornos mentais de uma forma bastante instrutiva e envolvente, ajudando a desconstruir os estigmas existentes.


Por fim, é fundamental ressaltar que histórias como a de Nina e Forrest existem para além da ficção. No mundo real, esses indivíduos ainda são expostos a diversos tipos de violência e preconceito, sendo nosso dever reverter esse quadro. Afinal, dignidade, liberdade e inclusão social são direitos de todos. Conhecida por revolucionar e humanizar o tratamento mental no Brasil, Nise da Silveira declarou “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas.”


Júlia Cristina Buzzi

Graduanda em Relações Internacionais (IRI-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2020/2021.



Notas e referências bibliográficas:


[1] As porcentagens apresentadas são referentes a indivíduos de 18 anos ou mais. Os dados foram extraídos do estudo ConVid Pesquisa de Comportamentos, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


ConVid Pesquisa de Comportamentos. Fiocruz, 2020. Disponível em: < https://convid.fiocruz.br/ > Acesso em: 01/02/2021.


RIBEIRO, Maiara. Síndrome de Asperger é a mesma coisa que autismo? Portal Drauzio Varella. Disponível em: < https://drauziovarella.uol.com.br/neurologia/sindrome-de-asperger-e-a-mesma-coisa-que-autismo/ > Acesso em: 03/02/2021.


Saúde Mental. Hospital Israelita Albert Einstein. Disponível em: < https://www.einstein.br/saudemental > Acesso em: 01/02/2021.


SETÚBAL, José Luiz. Síndrome de Asperger. Hospital Infantil Sabará, 2017. Disponível em: < https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/sintomas-doencas-tratamentos/sindrome-de-asperger/ > Acesso em: 03/02/2021.


Transtornos mentais. OPAS Organização Pan-Americana da Saúde. Disponível em: < https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais > Acesso em: 01/02/2021.


VIANA, Luana. Falta de informação ajuda a estigmatizar transtornos mentais. Portal Drauzio Varella, 2017. Disponível em: < https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/falta-de-informacao-ajuda-a-estigmatizar-transtornos-mentais/ > Acesso em: 02/02/2021.





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