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#StopAsianHate e identidade: o retrato do amarelo nascido no continente americano


#PraCegoVer [Fotografia]: pessoas protestam com placas em grande cidade contra o racismo direcionado aos asiáticos. Fonte: https://www.indy100.com/news/asian-hate-crimes-new-yorker-b1825037


O ódio e os ataques contra amarelos infelizmente estão se tornando cada vez mais comuns em diversos países ocidentais, especialmente nos Estados Unidos. Autorizados pelo discurso xenofóbico do ex-presidente Donald Trump, o qual diversas vezes se referiu ao coronavírus como “china vírus” e “kung-flu” (kung-febre), notícias de asiáticos sendo vítimas de agressão física, verbal e até homicídios começaram a configurar com frequência nos grandes noticiários do país. Recentemente, no dia 16 de março na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, um homem branco de 21 anos invadiu três casas de massagem e deixou oito mulheres mortas, seis delas descendentes de asiáticos. Perfis de redes sociais do atirador expunham postagens em que o jovem compartilhava discursos de ódio racial, como uma camiseta com os dizeres “Covid-19: vírus importado da China”. Desde então, diversos protestos por todo o Estados Unidos e pelo resto do mundo se espalharam, juntamente com o movimento #StopAsianHate.


O medo


#PraCegoVer [Ilustração]: Capa de revista. Em uma estação de metrô, uma mulher asiática segura a mão de sua filha pequena enquanto esperam o trem chegar na plataforma. A mãe olha para o relógio atentamente enquanto a filha observa se tem alguém por perto. Fonte: https://www.newyorker.com/culture/cover-story/cover-story-2021-04-05


A importante revista de críticas e ensaios estadunidense New Yorker tem como capa do dia 5 de abril de 2021 uma ilustração que retrata o novo estágio de preocupação de todos os asiáticos e asiático-americanos residentes dos Estados Unidos: o temor pela própria vida e segurança e o impacto psicológico causado com a onda de ódio em que o país vive.


Movimentos de resistência


A organização Stop AAPI Hate é uma organização que monitora os casos de violência contra asiáticos, asiático-americanos e habitantes das Ilhas do Pacífico no mundo, mas principalmente nos Estados Unidos, onde surgiu.


Consumir coisas da cultura asiática, mas não ter empatia pelos asiáticos é uma questão muito abordada pelos movimentos de resistência, que discutem como a desumanização dos corpos asiáticos ocorre pela branquitude que utiliza de estereótipos para sustentar a exploração de mão-de-obra barata dos países dos Tigres Asiáticos, por exemplo. Ouvir k-pop, assistir anime, ler mangá, vestir-se inspirados na moda asiática e comer comida asiática, mas fazer piadas utilizando dos estereótipos e da aparência física é uma forma de violência que invisibiliza o indivíduo, transformando-o apenas em um produto conveniente ao modelo econômico neoliberal.


Minari


#PraCegoVer [Fotografia]: Pôster de filme. Pai segura a mão do filho pequeno que segura a mão da irmã mais velha que segura a mão da mãe. Estão em um gramado, o menino mais novo sorri, enquanto pai e irmã olham para baixo e a mãe olha para para o lado. Ao fundo, vemos pintada na parede da casa a bandeira desbotada dos Estados Unidos. Fonte: https://a24films.com/films/minari


Na corrida para o Oscar de 2021, Minari é um filme estadunidense dirigido pelo diretor Lee Isaac Chung, no qual acompanhamos uma família de imigrantes coreanos em busca do tal “sonho americano”. A dinâmica da família acaba se transformando drasticamente com a chegada da avó da Coreia do Sul. O ator Steven Youn, que protagoniza o longa, é o primeiro asiático-americano a ser indicado ao prêmio de melhor ator no Oscar em 93 edições. Confundido por muitos como um filme coreano (inclusive foi indicado erroneamente como melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro), Minari é um filme estadunidense feito por asiáticos-americanos e coreanos, narrando essa história tão particular que pertence a muitas famílias que migraram em busca de oportunidades em outros países.


Ser asiático-americano


#PraCegoVer [Fotografia]: Criança está de pé olhando para a avó, que está sentada no chão. Eles se encaram. Estão dentro de casa e é dia. Fonte: https://a24films.com/films/minari


A partir do caçula da família, David (Alan Kim), a identidade asiático-americano entra em discussão. O pai durante todo o longa tenta plantar nas terras estadunidenses vegetais coreanos, exemplificando a condição do imigrante que luta em mesclar os dois mundos que formam sua existência. O único da família nascido nos Estados Unidos, David, simboliza através dos embates com a avó, figura anciã que acaba de vir da Coreia do Sul, a condição do asiático-americano. David, apesar de ser filho de coreanos, é estadunidense. Entender sua existência neste espaço entre Coreia do Sul e Estados Unidos é complicado. “Você não é uma avó de verdade”, diz David em um ponto do filme. Mais adiante, a avó responde ao neto: "Você é o menino mais forte que a vovó já viu”. David, que até então combatia essa figura representante da Coreia, aceita enfim seu lugar nos braços dela. Eis o dilema de ser filho de imigrantes tão bem retratado no filme: a eterna condição de estrangeiro, seja no continente americano, seja no continente asiático.


E no Brasil?


De acordo com o IBGE, cerca de 1,1% da população se autodeclara como amarela, sendo a maior parte de origem japonesa devido à imigração que iniciou-se em 1908, ao chegarem em Santos, no estado de São Paulo. Desde então, o Brasil é o país que abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão. Chineses também marcam presença significativa no país, sendo o Brasil o país que mais abriga chineses na América Latina, com cerca de 380 mil pessoas, com presença predominante no estado de São Paulo.


A xenofobia contra asiáticos no Brasil não é novidade. Piadas com lojistas chineses e restaurantes e lanchonetes de origem asiática são comuns (quem nunca ouviu alguém comentar que a carne é feita de gato ou de morcego em algum estabelecimento cujo donos são asiáticos?), assim como bullying em ambientes escolares e corporativos com comentários com a estatura; o formato dos olhos, a textura do cabelo e até o suposto formato anatômico dos órgãos genitais e suposições acerca de habilidades intelectuais e comportamentais, fatores que compõem o mito da “Minoria modelo”. É importante sempre ressaltar a pluralidade que forma os asiáticos e descendentes de asiáticos e compor a luta antirracista, tão conveniente à branquitude.


Marcela Sayuri estuda Letras Português-Japonês na FFLCH-USP.



Referências Bibliográficas:


We Need To Talk About Anti-Asian Hate: https://www.youtube.com/watch?v=14WUuya94QE&t=1875s


Cor ou raça. IBGE. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html>. Acesso em: 31 de abril de 2021.


WERNER, Luciana. Ódio e preconceito contra asiáticos crescem no Brasil e nos EUA. Projeto Colabora, 25 de maio de 2020. Disponível em: <https://projetocolabora.com.br/ods3/cresce-o-odio-contra-asiaticos/


Onda de ataques a asiáticos aterroriza comunidades nos Estados Unidos. Carta Capital, 25 de março de 2021. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/mundo/onda-de-ataques-a-asiaticos-aterroriza-comunidades-nos-estados-unidos/>. Acesso em: 31 de abril de 2021.


Stop AAPI Hate. Disponível em: <https://stopaapihate.org> . Acesso em: 31 de abril de 2021.


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