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‘5 câmeras quebradas’ e o retrato de um massacre


#PraCegoVer [Fotografia]: cinco crianças estão uma ao lado da outra, em uma janela. A terceira segura uma bandeira da Palestina em haste. Ao redor da janela vemos uma uma parede bege, marcada por diversos furos de arma de fogo. Fonte: https://vermelho.org.br/2019/04/04/palestina-sangue-e-resistencia/


Gaza, 15 de maio de 2021. Um bombardeio do exército israelense mata oito crianças e duas mulheres, todos da mesma família. As vítimas se encontravam no interior de suas residências, no campo de refugiados de Al-Shati. A tragédia descrita é apenas a amostra de um conflito sangrento que atinge milhares de cidadãos palestinos todos os anos.


A luta pelo controle do território Palestino tem um longo histórico conflituoso. Parte das disputas surgiram a partir da criação do estado de Israel, no ano de 1948, após a primeira guerra mundial. A fundação da nação fez com que os palestinos fossem obrigados a se abrigar nas regiões da Cisjordânia e Faixa de Gaza. Desde então, intensos embates diplomáticos, políticos e econômicos foram travados. Ainda que a independência da Palestina tenha sido conquistada em 1988, alguns países, como Estados Unidos e Israel, seguem sem reconhecer a legitimidade do Estado.


As constantes anexações de Israel sobre o território palestino, através das construções de assentamentos ilegais, geram reações contrárias por parte da comunidade internacional. A Organização das Nações Unidas, a União Europeia e até mesmo a Corte Suprema de Israel já atestaram a ilegalidade desta prática que fere inúmeros direitos básicos universais, sobretudo, por seu violento caráter imperialista. Entretanto, nenhuma medida ou sanção importante foi aplicada e famílias palestinas seguem tendo todos os seus direitos humanos absolutamente violados.


O documentário “5 Câmeras Quebradas” (Emad Burnat e Guy Davidi) aborda muitas dessas questões, contando a história de Emad, palestino de Bil’in, na região da Cisjordânia, que em 2005 compra uma câmera para registrar o crescimento de seu filho, Gibreel. O início das gravações coincide com a construção de uma barreira entre o vilarejo e um assentamento de colonos judeus, fato que dá início a uma escalada de tensões e conflitos com o exército israelense.


A capacidade que Emad tem de registrar com perfeição e riqueza de detalhes todo o contexto de disputas faz com que sejamos transportados para o centro dos conflitos. Os abusos e violência do exército de Israel são todos evidenciados, ainda que, por diversas vezes, a própria integridade física do diretor seja ameaçada. Todas as cinco câmeras utilizadas ao longo da produção são destruídas por tiros, bombas e ataques sofridos em protestos. Prisões arbitrárias, abuso de poder, torturas e assassinatos de civis mostram que a lei e a justiça não são conceitos importantes para Israel quando se trata da relação com a Palestina.


Em meio a todo o caos e destruição, podemos acompanhar o crescimento do pequeno Gibreel. O sentimento de impotência de um pai que observa a infância de seu filho ser absolutamente roubada pela dureza de um conflito interminável comove e desperta indignação. Nem mesmo as crianças são poupadas pela fúria da violência constante. O assassinato de jovens civis inocentes atestam a urgência de uma intervenção que seja capaz de parar esse massacre promovido por Israel.


Um relatório publicado em abril de 2021 pela Human Rights Watch, organização internacional de defesa dos direitos humanos, afirmou que o controle militar de Israel sobre a Palestina pode levar a uma situação similar ao apartheid, regime de segregação promovido por anos na África do Sul. É fundamental que os posicionamentos diplomáticos que condenam a violência de estado israelense se tornem ações práticas para garantia dos direitos humanos fundamentais palestinos. Os conflitos entre Israel e Hamas não podem mais ceifar tantas vidas inocentes.


É indispensável desconstruir o discurso predominantemente disseminado de que estamos presenciando um embate igualmente letal entre ambas as nações. Essa falsa simetria dificulta o debate e constrói uma narrativa parcial, que distorce os fatos. Reconhecer a legitimidade do estado Palestino e garantir a independência de suas terras é um passo essencial para cessar os conflitos e resguardadar o direito fundamental à vida.


Yan Carvalho - Ciências Sociais (FFLCH/USP)


Referências Bibliográficas:


Bombardeio israelense mata 8 crianças e 2 mulheres da mesma família em Gaza. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2021/05/15/ataque-aereo-israelense-contra-instalacoes-do-hamas-mata-dez-pessoas-da-mesma-familia.htm?fbclid=IwAR0BUGJmkGEN3JE8haUCEfux2lYbDqIS7kgjDhuVf6l-pKh__OLKFnGjpT4>. Acesso em: 01 de junho de 2021.


BALBINO, Leda. Por que tantas crianças e jovens morrem nos conflitos entre Israel e Hamas? Disponível em: <https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/05/25/por-que-tantas-criancas-morrem-nos-conflitos-de-israel-na-faixa-de-gaza.htm>. Acesso em: 01 de junho de 2021.


Comissária da ONU afirma que anexações de Israel são ilegais. Disponível em: <https://www.terra.com.br/noticias/mundo/comissaria-da-onu-afirma-que-anexacoes-de-israel-sao-ilegais,7282295f3e810598b2c18af01f7c21507bvwb7l6.html>. Acesso em: 01 de junho de 2021.


Israel comete ‘apartheid’ contra palestinos, aponta Human Rights Watch. Disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2021/04/apartheid-israel-palestinos-ong/>. Acesso em: 01 de junho de 2021.



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