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A vida (e a morte) de Marsha P. Johnson e o protagonismo questionado


#PraCegoVer [Fotografia]: No centro da imagem está Marsha P. Johnson, importante ativista para o movimento LGBTQIA+. Ela usa um vestido rosa, colares e uma tiara com flores, segurando uma taça com a mão esquerda. Ao fundo da imagem, uma mesa com uma taça, uma garrafa e um armário com utensílios de cozinha.

Fonte: https://revistahibrida.com.br/content/uploads/2018/09/life-and-death-marsha-p-johnsonw710h4732x-1200x799.jpg


A vida (e a morte) de Marsha P. Johnson é um documentário dirigido pelo repórter investigativo e cineasta americano David France, lançado em 6 de Outubro de 2017 e disponibilizado pela plataforma Netflix. A obra nos convida a conhecer mais profundamente a história da ativista do movimento LGBTQIA+ Marsha P. Johnson e seu protagonismo nas revoltas de Stonewall no final dos anos 1960, além de paralelamente trazer uma linha investigativa sobre sua morte em 1992, que segue sem uma conclusão.


No documentário, somos guiados por Victoria Cruz, conselheira do Anti-Violence Project, organização de Nova York dedicada a auxiliar e defender os interesses de pessoas LGBTQIA+ em casos de violência. Contemporânea de Marsha, apesar de não terem se conhecido, Victoria tem o objetivo de tentar trazer mais clareza para o falecimento de sua irmã de luta com a reabertura do caso em 2017, pois as circunstâncias de sua morte, como inúmeros casos de violência contra transexuais, nunca foram totalmente esclarecidas ou investigadas.


Amigos próximos de Marsha na época contestaram a versão de “suicídio” entregue pela polícia local e protestaram pelas ruas de Nova York exigindo respostas, pois ela poderia ter sido vítima de um homicídio. No decorrer da investigação, fica evidente que qualquer passo de Victoria para tentar levantar provas sobre o caso sempre é acompanhado de empecilhos por parte do estado e da polícia de Nova York, como quando ela tenta entrar em contato com delegados que atuaram no caso e eles se recusam a prestar depoimento, ou quando pede detalhes da autópsia para o IML de Nova York e as documentações estão desaparecidas.


Negra, prostituta e ativista, Marsha P. Johnson é considerada uma lenda na comunidade LGBTQIA+ nova iorquina. Atuante nas linhas de frente das revoltas de Stonewall, fundou a Gay Liberation Front (Frente de Libertação Gay), um dos movimentos pioneiros contra a perseguição aos LGBT marginalizados. Porém, apesar do progresso conquistado a partir de 1969, viu homens cis gays e mulheres cis lésbicas protagonizarem a causa, questionando o seu papel e o papel das pessoas trans em geral. Assim, juntamente com Sylvia Rivera, criaram a STAR (Street Transvestite Action Revolutionaries, ou Ação Revolucionária de Travestis de Rua) para oferecer suporte, moradia, comida e roupas às pessoas trans desabrigadas nas ruas de Greenwich Village.


“Marsha se transforma em um símbolo para “todas” pessoas queers – mas esse “todas” quase sempre significa as experiências universalizadas de homossexuais brancos. A dor específica de Marsha, seu sofrimento, fica em segundo plano. É por isso que conhecemos o sorriso da ativista, mas não os pensamentos que passavam por sua cabeça. É por isso que lembramos Johnson como mártir, mas pouco falamos sobre as causas pelas quais ela lutou” Hugh Ryan sobre Marsha para revista OUT.

Além desse caso, o documentário dedica alguns minutos ao caso de Islan Nettles, transexual espancada até a morte por James Dixon, que foi condenado a 12 anos de prisão – nem metade da pena máxima de 25 anos – mostrando que mesmo quando casos são solucionados, os agressores pegam penas mais brandas.


No Brasil, não é diferente: segundo dados da organização Transgender Europe, em 2020, tivemos mais de 175 assassinatos de pessoas transexuais, sendo todas as vítimas mulheres trans/travestis, alcançando um triste recorde para o gênero desde que os dossiês começaram a ser divulgados. Mesmo com um grande ganho de espaço e visibilidade, faltam políticas públicas na área da saúde e na segurança pública para o movimento LGBTQIA+, principalmente para corpos transexuais. A sigla T luta contra a violência, carregando a luta diária pela própria vida e existência.


Lucas Moreira Pinto

Aluno de Sistemas de Informação (EACH-USP) e bolsista do CineGRI Ciclo 2020/2021


Referências Bibliográficas


CARVALHO, Diana. O ativismo de Marsha P. Johnson foi central na luta por direitos trans. Uol. Disponível em: < https://www.uol.com.br/ecoa/amp-stories/fizeram-historia-marsha-p-johnson/>. Acesso em: 08 de agosto de 2021.


VALENTE, Anghel. Marsha P. Johnson, de Stonewall ao fundo do Rio Holland. Revista Híbrida, 2018. Disponível em: < https://revistahibrida.com.br/2018/09/20/a-historia-de-marsha-p-johnson-de-stonewall-ao-fundo-do-rio-holland/ >. Acesso em: 08 de agosto de 2021.


SUDRÉ, Lu. Assassinatos de pessoas trans aumentaram 41% em 2020. Brasil de Fato, 2021. Disponível em: < https://www.brasildefato.com.br/2021/01/29/assassinatos-de-pessoas-trans-aumentaram-41-em-2020>. Acesso em: 08 de agosto de 2021.


OLIVEIRA, Luciana de. Associação aponta que 175 pessoas transexuais foram mortas no Brasil em 2020 e denuncia subnotificação. G1, 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/01/29/associacao-aponta-que-175-pessoas-transexuais-foram-mortas-no-brasil-em-2020-e-denuncia-subnotificacao.ghtml>. Acesso em: 08 de agosto de 2021.



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