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  • Foto do escritorCineGRI

Feito escravo e mantido assim


Fonte: Pinterest Brasil


#PraCegoVer [FOTOGRAFIA]: No canto inferior esquerdo da imagem se encontra um banquete, vários pães e bolos sobre uma mesa coberta por uma toalha branca. No centro da imagem uma fila de crianças negras de ambos os gêneros, com as mãos e os pescoços presas por cordas e acorrentadas umas às outras, vestidas com roupas esfarrapadas do século XXVII. Ao fundo se encontra uma grande construção que se assemelha a uma estufa.


Quanto vale ou é por quilo?” é um filme de 2005 dirigido, roteirizado e produzido por Sérgio Bianchi. Tem como temática central as heranças do passado escravista no Brasil, brincando com a linearidade da narrativa alternando constantemente entre passado e presente de modo a evidenciar as permanências dos interesses de classe, do racismo, e o trabalho escravo.


No Brasil pós-abolição o negro se mantém impedido de ser livre. As dívidas para comprar a própria alforria eram altíssimas e levavam a trabalhos degradantes de gerações para que o tão almejado título fosse comprado. Essa cena é retratada inúmeras vezes no filme. O feito escravo, lutando por sua liberdade, trabalhando mais do que já trabalhava para render mais lucros para o seu patrão, para quem sabe um dia ser dono do seu próprio destino.


Avançando para os dias de hoje, o filme retrata uma senhora (Miriam Píres), de aproximadamente 70 anos se vendo obrigada a trabalhar para conseguir, minimamente, condições de sobrevivência. A necessidade a impele a conseguir um emprego de faxineira. O salário é a substituição de um direito que ela deveria ter. Sua alforria ainda não foi comprada, para isso lhe cabe a aposentadoria que ainda não veio. Assim, a escravidão é atualizada, um trabalho degradante, em condições deploráveis para que se mantenha o mínimo de dignidade.


Os paralelos são claros. A necessidade, independentemente da época, faz com que os mais pobres se vejam obrigados a conseguir qualquer trabalho, por mais indigno que ele seja. Vemos o capitão-do-mato, negro alforriado que perseguia negros em busca de liberdade, refletido assim, na polícia que persegue aqueles que deveria proteger.


Portanto, a miséria e a exploração são benéficas por seus fomentadores. Trabalha-se muito para gerar o máximo de renda, mas recebendo o mínimo para que não pare de produzir. Nessa realidade sobreviver é o norte a ser seguido a todo custo.


A revolta pelos injustiçados é um caminho que parece natural, porém, as personagens do filme, as feito escravas e as escravas contemporâneas, quando a buscam se vêem perseguidas e roubadas do pouco que conseguiram. Portanto, a permanência da situação não se dá por quem a vive, mas por quem tem o poder de mudá-la mas não quer.


Edson Kayaki Jr

Graduando em Ciências Sociais (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2019-2020.


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