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Nada surpreende se faz parte de um plano: O etnocídio indígena e o capitalismo


#ParaTodosVerem [Fotografia]: Três indígenas estão de perfil na imagem, mas apenas um está sob o foco. Ele/ela tem cabelo liso e longo, usa um adereço trançado na cabeça com penas azuis e amarelas. Todos os indivíduos usam uma máscara branca que diz “Vidas indígenas importam”.

Fonte:https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-06-14/a-morte-do-futuro-covid-19-entre-os-povos-originarios.html



Recentemente, o povo Yanomami sofreu ataques físicos, psicológicos e morais por parte de garimpeiros ilegais. O interesse da mídia, dos orgãos de justiça e proteção indigena (Funai) mais uma vez escancararam como a mais de 500 anos pouco se faz contra o genocídio indígena no Brasil e no mundo. Isso pois se no ano de 1500 a população indígena no Brasil era “de dois a cinco milhões de pessoas” hoje, passaram a ser “cerca de 250 mil indivíduos” (FAPESP, 1998). É nítido que a sociedade como um todo não se importa com milhares de vidas e a cultura de centenas de povos sendo extinta.


Em apenas 20 minutos o curta-metragem documental “Xetá” do diretor Fernando Severo (disponível na plataforma digital de cinema indígena “Cinenativo”) aborda a gravidade da situação tratando de apenas uma etnia indígena: os Xetá, um povo paranaense quase extinto, que ficou conhecido por ser o último a ser colonizado nos anos 40/50 no Estado, e assim como ocorreu no início da colonização portuguesa, e como se repete até hoje, o povo Xetá sofreu um genocídio em nome da evangelização e do desmatamento pela monocultura.


Para além das cenas chocantes que contam essa parte da história, uma cena do documentário chama bastante atenção para a naturalidade que a sociedade foi levada a tratar do assunto. O enredo mostra a reunião dos últimos sobreviventes e descendentes do povo Xetá que haviam conseguido sobreviver por terem fugido ou sido sequestrados ainda bebês e levados para várias regiões do Brasil. O grupo vai à região onde viviam originalmente e é recebido em uma escola de ensino primário com a apresentação de uma pesquisa sobre a etnia, feita pelos estudantes. O choque vem da caracterização das crianças, como diz a narração: “todas vestidas de indígenas norte-americanos”, ou seja, além de naturalizar o racismo no ato de usar uma etnia como fantasia, a aculturação causada pelo imperialismo estadunidense se mostra impregnada na rotina até dos educadores.


Nesse mesmo processo, pelos interesses nefastos dos que regem o sistema capitalista, extinguem-se também plantas, animais e a possibilidade de qualquer sobrevivência de vida terrestre. A estratégia é clara, reprimir e impossibilitar a produção e compartilhamento de informação contrária ao capital, e isso pode ser visto na ausência da importância dada à produção de conhecimento milenar indígena sobre as possibilidades do universo ecológico deste planeta, bem como os novos estudos que o Planeta Terra não suporta mais esse sistema de produção e consumo do ser humano. O desmonte da Funai, o aumento das queimadas e do desmatamento, a liberação de agrotóxicos, o garimpo ilegal e a falta de atendimento médico para a população indígena não chocam porque são parte de um projeto ganancioso das grandes elites que pouco se importam com humanos e com a Terra, afinal mudar-se do planeta já faz parte dos planos deles.


Os "Super-ricos'' ficam com 82% da riqueza gerada no mundo em 2017” (GOMES, 2018), a exploração e o abismo refletem-se nos números, a “fortuna de bilionários do mundo cresceu 60% durante a pandemia” (COOBAN, 2022). Esses super-ricos são menos de 1% da população mundial, o privilégio é tanto que eles são incapazes de entender o tamanho desta desigualdade e das dificuldades diárias dos 99%, por isso o sistema é tão bem articulado, do contrário, certamente os 99% se rebelariam e entenderiam a importância de realizar o sonho de todas as etnias indígenas à séculos: proteção ao meio ambiente, demarcação de terras, retratação e respeito.


Juliana Mendes Santiago - Estudante de Biblioteconomia (ECA/USP)



Referências


XETÁ. Direção de Fernando Severo. Brasil: WG7BR, 2011.

COOBAN, Anna. Fortuna de bilionários do mundo cresceu 60% durante a pandemia. CNN Brasil, Rio de Janeiro, 17 jan. 2022. Business. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/fortuna-de-bilionarios-do-mundo-cresceu-60-durante-a-pandemia/. Acesso em: 23 mai. 2022.

FAPESP. Índios do Brasil. Revista Pesquisa, São Paulo, v. 29, p.11, mar. 1998. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/indios-do-brasil/. Acesso em: 23 mai. 2022.

GOMES, Helton Simões. Super-ricos ficam com 82% da riqueza gerada no mundo em 2017, diz estudo. G1, São Paulo, 21 jan. 2018. Economia. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/super-ricos-ficam-com-82-da-riqueza-gerada-no-mundo-em-2017-diz-estudo.ghtml. Acesso em: 23 mai. 2022.


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