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Olhares sobre o amanhã: as consequências da Primavera Árabe para a Tunísia

Atualizado: 12 de abr. de 2020


Fonte: SensCritique


#PraCegoVer: [FOTOGRAFIA] Três pessoas árabes olhando para o nascer do sol, sendo que eles encaram da direita para a esquerda. São duas mulheres nas pontas e um garoto no meio. A mulher mais à esquerda veste um moletom cinza, o garoto no meio veste um moletom azul e a mulher mais à direita veste uma jaqueta de couro sintético vermelha.



Com o título original inspirado em um poema de Victor Hugo de 1856, Demain des l'aubes [1] é uma película de 2017 do diretor tunisiano Lotfi Achour, conhecido por sua carreira na dramaturgia e premiado nas suas produções de curta-metragem. Sua estreia no cinema de longa-metragem foi marcada por este filme que, tendo o nome traduzido para português como “Esperança em Chamas” [2], tirado do inglês “Burning Hope”, tem uma proposta de fazer uma narrativa sobre o desenrolar dos fatos após a Revolução de Jasmim através da história de uma inesperada amizade entre as duas mulheres Zeineb (Doria Achour) e Elyssa (Anissa Daoud) e do adolescente Houssine (Achref BenYoussef). Os três têm as suas vidas cruzadas após um confronto policial que as mulheres sofrem por participarem das manifestações contra o regime, na mesma madrugada do dia 14 de janeiro de 2011 em que o presidente Ben Ali, governante do país durante 23 anos, fugia devido aos grandes protestos da população reivindicando mais direitos e democratização da sociedade tunisiana. Houssine as ajuda e após a separação dos três, um evento leva a uma intensa investigação policial dos acontecidos daquela noite.


A Revolução de Jasmim, nome dado pelos tunisianos ao movimento de emancipação e de mudança no cenário político do país, foi a primeira das mobilizações que deu início à chamada “Primavera Árabe” no final de 2010 e início de 2011, presente nos países árabes do norte da África contra os governos ditatoriais, impulsionado por problemas econômicos, sociais, religiosos, liberdade de expressão e catalisados pelas redes sociais. Esse filme, lançado cinco anos após esses eventos, tenta representar através do olhar cinematográfico a percepção da Tunísia como um país que tem que lidar com os seus fantasmas pós-revolução e a sua frágil democracia. A Tunísia é o único país participante da Primavera Árabe que mantém o mais próximo da ideia de democracia após a Revolução, uma vez que outros países retrocederam com governos militares e golpes de estado, ou ainda lidam com guerras civis e as consequências bélicas das movimentações do início da década [3].


No filme, a descoberta das duas mulheres de que, naquela mesma noite, Houssine foi perseguido, espancado e sofreu violência sexual por parte dos policiais revela um desdobramento de desilusão em suas vidas, ao passo que a esperança daquela lembrança se esvai junto das perspectivas de mudança social e de cenário político. Através do olhar das mulheres – escolha cinematográfica que é uma tendência no movimento pós-revolucionário – o espectador é impelido a refletir e repensar os papéis na sociedade e os rumos que o país tomou após aquela fatídica noite que, apesar de parecer promissora, impulsionou em contrapartida um revisionismo histórico, crise econômica e a volta do conservadorismo, além das consequências das guerras e uma frágil democracia após os movimentos revolucionários.


Larissa Karoline

Graduanda em História (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2019/2010.


Notas:

[1] “Amanhã, ao amanhecer” (1856) é um dos poemas mais famosos do escritor francês Victor Hugo (1802-1885). Escrito em homenagem à sua filha, Léopoldine Hugo, que havia morrido no ano anterior, o poema trata sobre uma visita ao seu túmulo e ponderações sobre a morte.




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