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A Trúfula Perdida e a Questão Ambiental no Brasil

Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza.

Tudo é natureza. O cosmos é natureza.

Tudo em que eu consigo pensar é natureza.

(KRENAK, 2019, p. 10)

#PraCegoVer [ANIMAÇÃO]: No centro da imagem, o personagem Umavez-ildo corta um tronco de trúfula (espécie de árvore). Ele veste um chapéu cinza, uma blusa branca, um colete cinza, uma calça cinza listrada e luvas verdes. Além disso, ele segura um machado com as duas mãos. Atrás de Umavez-ildo, pequenos ursos e aves o observam. O fundo é composto por diversas trúfulas nas cores laranja, amarela, vermelha e roxa. Fonte: http://www.contracenarte.com/2012/04/o-lorax-uma-licao-para-humanidade.html


Na cidade de Thneedville, a vida é perfeita (e artificial). Árvores coloridas de mentira, flores de plástico e galões de ar puro enlatado compõem o cenário aparentemente divino que oculta uma história de progresso, ganância e consumismo. Tudo começa com o personagem Umavez-ildo (Ed Helms), que encontra por acaso uma floresta de trúfulas, uma espécie de árvore macia e colorida. Deslumbrado com a possibilidade de riqueza, Umavez-ildo começa a cortar as plantas para produzir um produto milagroso chamado sneed, abalando permanentemente o ecossistema. Anos depois, o jovem Ted (Zac Efron) procura Umavez-ildo para descobrir a verdadeira história sobre as extintas árvores e, após muitos empecilhos, consegue plantar a última semente de trúfula que ainda resta. Por meio da ação de Ted, os moradores de Thneedville finalmente compreendem a importância da natureza e o equilíbrio é restaurado.


A história descrita acima constitui o enredo do filme O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida (Chris Renaud, 2012). Infelizmente, o Brasil não possui uma semente de trúfula milagrosa capaz de solucionar os problemas ambientais existentes. Apesar da rica biodiversidade, o país se encaminha para um futuro semelhante ao de Thneedville: o Brasil está entre os 15 países que mais emitiram CO2 em 2019 [1] e lidera o ranking mundial dos países com maior perda florestal entre 2010 e 2020 [2]. Ainda está em tempo de salvar a fauna e a flora brasileiras, mas são necessárias ações urgentes e mudanças drásticas. Sendo assim, entender o atual panorama brasileiro é o primeiro passo em direção à conscientização.


Sem dúvidas, a Amazônia Legal constitui uma das áreas mais ameaçadas do país. Segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento na região vem aumentando por três anos consecutivos. No gráfico abaixo, é possível ter uma dimensão melhor da devastação:



Muitas vezes feito de maneira ilegal, esse processo acarreta grandes prejuízos ao meio ambiente. Perda de espécies nativas, desertificação e exaustão do solo são apenas alguns dos problemas causados pelo desflorestamento. Afinal, por que há tanto interesse em devastar a Amazônia? Em geral, a cobertura vegetal é retirada para ceder espaço às atividades econômicas, como a plantação intensiva de soja. Maior produtor do país, o Mato Grosso coincidentemente (ou não) apresentou uma das mais altas taxas de desmatamento em 2020 entre os estados integrantes da Amazônia Legal. Embora existam narrativas conflitantes, o cultivo de soja em área devastada é incentivado pela sensação de impunidade e pelos lucros elevados. Infelizmente, os fatores econômicos predominam sobre a preocupação ambiental com frequência.


Além disso, o Pantanal é outro bioma brasileiro que tem ganhado espaço na mídia. Entretanto, a notoriedade é decorrente de acontecimentos indesejáveis. Como não lembrar das manchetes jornalísticas anunciando as recentes queimadas na região? Em 2020, a quantidade de focos de incêndio registrada foi a maior desde 1988 [3]. Os números alarmantes parecem quase paradoxais à natureza do Pantanal, maior área úmida da Terra. Por sinal, nem mesmo os rios estão seguros no “reino das águas”. O assoreamento do Rio Taquari, por exemplo, ilustra a situação de forma exemplar. Em virtude das pressões humanas, o curso d’água rompeu suas margens e alagou permanentemente áreas de terra. Assim, famílias foram privadas de seu sustento, pessoas ficaram desabrigadas e animais perderam seu habitat natural. Essa triste situação é representada na obra Ruivaldo, o Homem que Salvou a Terra (Jorge Bodanzky e João Farkas, 2019).


O quadro de devastação é tão extenso que se torna impraticável citar todos os problemas ambientais brasileiros neste texto. De qualquer forma, os exemplos mencionados acima são suficientes para soar um alerta quanto à insustentabilidade de nosso atual estilo de vida. Para evitar que o destino do Brasil seja semelhante ao de Thneedville, a sociedade precisa agir (e rápido).


Júlia Cristina Buzzi

Graduanda em Relações Internacionais (IRI-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2020/2021.



Notas e referências bibliográficas:


[1] CO2 Emissions. Global Carbon Atlas. Disponível em: < http://www.globalcarbonatlas.org/en/CO2-emissions > Acesso em: 16/ 03/ 2021.


[2] FAO. Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Global Forest Resources Assessment 2020: Main report. Roma: FAO, 2020. Disponível em: < http://www.fao.org/3/ca9825en/CA9825EN.pdf > Acesso em: 16/03/2021.


[3] HAJE, Lara. Inpe confirma aumento de quase 200% em queimadas no Pantanal entre 2019 e 2020. Agência Câmara de Notícias, 2020. Disponível em: < https://www.camara.leg.br/noticias/696913-inpe-confirma-aumento-de-quase-200-em-queimadas-no-pantanal-entre-2019-e-2020/ > Acesso em: 18/ 03/ 2021.


A taxa consolidada de desmatamento por corte raso para os nove estados da Amazônia Legal (AC, AM, AP, MA, MT, PA, RO, RR e TO) em 2019 é de 10.129 km2. INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2020. Disponível em: < http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5465 > Acesso em: 16/ 03/ 2021.


KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: EDITORA SCHWARCZ S.A., 2019. Disponível em: < https://culturapolitica2018.files.wordpress.com/2019/09/ideias-para-adiar-o-fim-do-mundo.pdf >


Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite. Coordenação Geral de Observação da Terra – INPE. Disponível em: < http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes > Acesso em: 16/ 03/ 2021.


Soja em números (safra 2019/20). Portal Embrapa. Disponível em: < https://www.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos > Acesso em: 18/ 03/ 2021.

Taxas calculadas por imagem de satélite pós 2002. Coordenação Geral de Observação da Terra – INPE. Disponível em: < http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes/taxas-calculadas-por-imagem-de-satelite-pos-2002 > Acesso em: 16/ 03/ 2021.





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