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Ganhamos ou perdemos? O que realmente significam as eleições estadunidenses de 2020?

Atualizado: 19 de jan.



#ParaTodosVerem: Na imagem há apenas o tronco de homem, que veste uma blusa casual, em seu peito um broche com a palavra "Vote". Ele segura uma bandeira dos Estados Unidos nas mãos.


Desde o início da década de 2010 [1], principalmente em sua segunda metade, cresce na Europa e na América a extrema-direita, marcada por um radicalismo nacionalista, populista, preconceituoso e conservador.


Sob a bandeira nacionalista e anti-imigração, em 2016, os eleitores ingleses votaram a favor do Brexit, ou seja, decidiram deixar a União Europeia. Em 2017, na França, a candidata de extrema direita Marine Le Pen terminou a eleição presidencial em segundo lugar e o crescimento da Frente Nacional, seu partido, simbolizou uma vitória para o conservadorismo. No mesmo ano, em setembro, a Alemanha presenciou pela primeira vez, desde a Segunda Guerra Mundial, um partido de extrema direita conquistar o direito de ter representantes no parlamento, a AfD (Alternativa para a Alemanha) tornou-se a terceira força do legislativo [2].


A América não foge desse fenômeno. Em 2016, a vitória de Donald Trump ao cargo de presidente dos Estados Unidos, considerado a maior potência econômica do mundo, influenciou fortemente o “boom” direitista no continente americano. As vitórias em 2018 de Jair Bolsonaro, no Brasil, de Iván Duque, na Colômbia e de Mario Benítez, no Paraguai são, em certa medida, consequências desse marco e também representaram um avanço da direita e o crescimento da “Onda Conservadora” para a América [3].



No final de 2020, em contrapartida ao direcionamento político dos últimos dez anos, o democrata Joseph Biden venceu a eleição presidencial estadunidense, contra o republicano Donald Trump. Sua vitória foi fortemente celebrada e lida como vitória da esquerda e da democracia e tida como uma derrota ao “trumpismo” e à extrema-direita. Alguns partidos de esquerda no Brasil comemoraram e analisaram a derrota de Trump como um prenúncio da derrota de Bolsonaro no Brasil, em 2022. No entanto, no dia 06 de janeiro de 2021, durante sessão que certificaria a vitória de Joe Biden, o Capitólio, sede do Legislativo federal dos EUA, foi invadido por manifestantes de extrema-direita e seguidores fiéis de Donald Trump, que incentivou o ato através de suas redes sociais, alegando fraudes nas eleições de 2020 e, por consequência, a ilegitimidade da vitória de seu adversário [4].


A invasão do Capitólio chamou atenção do mundo inteiro para a fragilidade dos valores democráticos ocidentais e para o peso da força da extrema-direita, mesmo após a derrota de um de seus principais representantes. Outro elemento chamativo da invasão foi a presença de diversos símbolos naqueles que participaram do evento: muitos traziam consigo a bandeira da Confederação, representando a defesa da escravidão no século XIX, insígnias neonazistas e símbolos da Ku Klux Klan, organização supremacista branca.


O episódio histórico é, em muitos aspectos, semelhante ao filme “A liberdade de Rosenzweig”, de 1998, que aborda o crescimento do neonazismo e do racismo na Alemanha nos anos 1990. O longa-metragem, dirigido por Liliane Targownik, começa com um ataque de um grupo de skinheads a um abrigo de imigrantes. Michael Rosenzweig, um dos sobreviventes do ataque, é perseguido pelo grupo e se defende com tiros. Na mesma noite, um líder neonazista é morto e Rosenzweig é acusado do crime. Durante todo seu julgamento, o protagonista deve lidar com a violência e a discriminação escancarada e orgulhosa da extrema-direita. O filme, inspirado em fatos reais, retrata um período delicado e sensível para a Alemanha, mas poderia facilmente se relacionar com o atual momento estadunidense.


Apesar da vitória de Biden, a invasão no Capitólio sinalizou um alerta claro para a manutenção do peso da extrema-direita. Mesmo derrotado, Trump obteve mais de 7 milhões de votos a mais do que havia recebido em 2016 [5] e o número de deputados federais republicanos aumentou em dez cadeiras [6]. Esses dados demonstram que mesmo com o pobre desempenho de líderes de direita ao lidar com a Pandemia, a crise econômica e o desemprego, suas bases eleitorais permanecem fiéis.


Tendo isso em mente, o resultado nas eleições estadunidenses significa uma derrota real para a extrema-direita? Se a vitória de Biden não significa uma perda de influência e popularidade da direita, como a alcançamos? Como respondemos a ataques à democracia e ao discurso de ódio tão presente na extrema-direita? O caminho que devemos traçar é pela via constitucional ou pelas ruas?



Mariana Ramos

Graduanda em Ciências Sociais (FFLCH – USP) e bolsista do Projeto CineGRI


Referências Bibliográficas:


[1] ESTEFANÍA, J. Mas quem é essa nova direita que ganha espaço pelo mundo? Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/22/opinion/1553264899_947348.html>. Acesso em 24/01/2021


[2] CHARLEAUX, J. P. Por que a extrema direita cresce no mundo, segundo esse estudo. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2017/09/29/Por-que-a-extrema-direita-cresce-no-mundo-segundo-este-estudioso>. Acesso em: 24/01/2021


[3] Esquerda e direita na América do Sul. Disponível em: <https://infograficos.gazetadopovo.com.br/mundo/esquerda-e-direita-na-america-do-sul/>. Acesso em: 24/01/2021


[4] GUIMÓN, P. Trump "sem dúvida" causou invasão do Capitólio, diz advogado do 'xamã do QAnon'. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-19/trump-sem-duvida-causou-invasao-do-capitolio-diz-advogado-do-xama-do-qanon.html>. Acesso em: 24/01/2021.


[5] CORRÊA, A. Eleição nos EUA 2020: por que a vitória de Biden não significa o fim do trumpismo. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54843658>. Acesso em: 24/01/2021.


[6] Vitória de Joe Biden não foi a que democratas esperavam. Disponível em: <https://www.blogdobg.com.br/vitoria-de-joe-biden-nao-foi-a-que-democratas-esperavam/>. Acesso em: 24/01/2021.


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