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O preço do amanhã encontra o preço da desigualdade



#PraCegoVer [Fotografia]: Close-up no braço de um homem branco com uma espécie de tatuagem tecnológica que marca quantos minutos de vida a pessoa ainda tem. Neste caso, a tatuagem está zerada, mostrando que a pessoa esgotou seus minutos de vida, estando morta.


Na sociedade capitalista, tempo é dinheiro. E é nessa premissa que o filme de longa metragem O preço do amanhã (Andrew Niccol, 2011) se ampara em seus 109 minutos, onde, neste futuro distópico, a população cresce e se desenvolve até os vinte e cinco anos e, após completar seu vigésimo quinto aniversário, para de envelhecer. Entretanto, o preço pago por isso é alto. Não há mais dinheiro em cédulas como conhecemos e que em nosso mundo real está com seu tempo contado se considerarmos a popularização de criptomoedas e carteiras eletrônicas como Google Pay, PicPay e Mercado Pago. As pessoas são pagas e pagam pelos seus serviços debitando seu tempo de vida, da forma mais literal possível, com um relógio digital integrado no braço. Quem é rico tem mais tempo – podendo viver eternamente. Quem é pobre, bem, você sabe. Tem que estar sempre correndo atrás de sua sobrevivência.


Sendo uma ótima alegoria para a sociedade de consumo exacerbado que o capitalismo nos aloca, o que a gente possui acaba nos possuindo, tornando parte de nosso ser. A oferta de novos produtos é tão alta que se reverte felicidade em ter coisas. O relógio exibido no filme que indica quantos minutos de vida restam para seu consumidor, nada mais é que a materialização daquilo que o capitalismo se sustenta: o dinheiro e o tempo de vida de cada pessoa acaba sendo, ao final, a mesma coisa.


O Sistema das Nações Unidas (ONU) possui o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), local de discussão em relação a preservação ambiental e sustentabilidade liberou dados alarmantes acerca do esgotamento de recursos naturais e aumento da poluição atmosférica. Como visto nos dados liberados pela PNUMA, é revelado que nos últimos dez anos as emissões de gases de efeito estufa cresceram em média de 1,6% ao ano [1]. Além disso, com perdas de fertilidade ligadas à erosão e ao esgotamento de recursos naturais, cerca de 20% da superfície da Terra sofreu declínio de sua produtividade, como mostrado no site da ONU [2].


Assim o filme "O preço do amanhã", o protagonista Will Salas, interpretado por Justin Timberlake, é um jovem vindo da região pobre da cidade que, ao ganhar um século de vida de um ricaço que encontra na rua, torna-se uma espécie de símbolo da desigualdade social sustentada por este sistema, um Robin Hood que rouba dos ricos e distribui para os pobres. A obra cinematográfica apresenta o preço da desigualdade, realidade cruel e longe de ser ficção; de acordo com a ONU, 1% da população movimentou 82% de toda a riqueza criada em 2017 [3].


Ao final do longa, fica a reflexão: vendemos nosso tempo de vida para o consumo e este consumo afeta drasticamente o meio ambiente. Ainda há tempo de reverter isso? O sistema capitalista combina com a restauração de recursos naturais? Existe interesse do mercado em sustentabilidade? A ação tem que ser rápida. Nem causa mais surpresa que até 2050 haverá mais plástico que peixes.[4]. O preço do amanhã, infelizmente, já conhecemos.


Marcela Sayuri

Graduanda em Letras (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2019-2020.


Fontes:

[1] ONU Meio Ambiente: foco político na crise climática é o maior em uma década

. Nações Unidas Brasil, 2019. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/onu-meio-ambiente-foco-politico-na-crise-climatica-e-o-maior-em-uma-decada/>. Acesso em: 4 de fevereiro de 2020.

[2] ONU Meio Ambiente: ONU declara Década sobre Restauração de Ecossistemas. Nações Unidas Brasil, 2019. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/onu-declara-decada-sobre-restauracao-de-ecossistemas/>. Acesso em: 4 de fevereiro de 2020.

[3] UOL: Década vê explosão de milionários e desigualdade que ameaça democracias. UOL, 2019. Disponível em < https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2019/12/31/decada-ve-explosao-de-milionarios-e-desigualdade-que-ameaca-democracias.htm>. Acesso em: 4 de fevereiro de 2020.

[4] Buzzfeed: 15 fatos sobre o futuro do planeta que farão você odiar (ainda mais) a humanidade. Buzzfeed, 2018. Disponível em: <https://www.buzzfeed.com/br/jonmichaelpoff/fatos-futuro-planeta-odio-humanidade />. Acesso em: 4 de fevereiro de 2020.


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