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Sobrevivendo para consumir

Atualizado: 9 de mai. de 2020


#PraCegoVer: [FOTOGRAFIA]: Quadro do filme Surplus - Aterrorizados pelo consumo. A imagem mostra um letreiro escrito “Economize: Consuma Apenas o Necessário” em espanhol, ao lado de uma rodovia.



Desde o surgimento da humanidade no planeta Terra, vivemos uma grande busca por sobrevivência. Tendo em vista essa necessidade, os seres humanos primitivos, em uma cultura de subsistência, utilizavam os recursos naturais sem outras intenções. Até que o homem adquiriu consciência e conhecimento de que matérias-primas poderiam ser utilizadas como meio para acumular capital. Passando pela Idade Média e Feudalismo, chegamos ao sistema econômico que dita as regras no mundo contemporâneo, o Capitalismo.


O Capitalismo, pode-se dizer que, é uma consequência de inúmeros fatores políticos, econômicos e sociais que resultaram em uma cultura de consumo absoluto e total ‘apreço’ ao capital. A Revolução Industrial mudou o pensamento no que tangia à produção. Antes os artesãos detinham o conhecimento técnico para produzir, mas com a invenção das máquinas os fabricantes não eram mais limitados à simples capacidade humana, portanto a produção começou a aumentar exponencialmente.


Isso nos traz ao século XX, com o nascimento de grandes corporações e sistemas de informação. Não só produtos materiais são colocados na linha produção, mas também há a fabricação de pensamentos e necessidades. O consumismo é consequência do marketing, da promessa das empresas de que se as pessoas consumirem seus produtos elas serão felizes e da fabricação de necessidades que, na verdade, não existem. A busca pela felicidade na compra é incentivada pelos meios de comunicação e também pelo sistema político nos países desenvolvidos, baseado na liberdade americana de que a liberdade real é a liberdade de consumo.


O documentário Surplus: Aterrorizados Para Consumir [1] (Erik Gandini) começa uma discussão exatamente sobre esse ponto. Lançado em 2003, demorou três anos para ser concluído e apresenta filmagens da China, EUA, Cuba, Itália, Hungria, Índia, Canadá e Suécia, e é editado utilizando os sons e imagens de cada país para criar cenas incríveis que criticam a postura de líderes mundiais, tanto políticos quanto CEOs de grandes empresas.


O começo do filme apresenta cenas violentas de protestos no 27º encontro do G8 em Gênova. As manifestações também ficaram conhecidas por Batalha de Gênova e foi marcada pela morte do manifestante Carlo Giuliani, alvejado por um policial, e pelo caráter violento e repressor que as forças policiais italianas lidaram com os manifestantes. Enquanto as cenas passam no filme, um discurso de Fidel Castro contra as sociedades de consumo é colocado ao fundo, no qual ele diz que as sociedades de consumo são responsáveis pela destruição do meio ambiente. Esse conjunto dita o ritmo do resto do filme.


Diversos pronunciamentos, palestras e entrevistas de líderes mundiais como George Bush, Steve Ballmer e Bill Gates são postos em xeque quando estes incentivam o consumo e destacam a liberdade de consumir. Discurso do ex-presidente dos EUA, George Bush: “Não podemos deixar com que o terrorismo atinja seu objetivo de intimidar nossa nação ao ponto de que não possamos mais… Onde pessoas não possam mais comprar”. Mostra que o principal objetivo da sociedade é manter sua “liberdade” de comprar.


Em contrapartida, o filme entrevista o filósofo anarquista John Zerzan que diz: “Trabalhar constantemente e consumir constantemente. É loucura. Está destruindo tudo, vai tudo desaparecer”. Se referindo à exploração massiva de recursos naturais. Ponto fundamental no filme e que deve ser pensado criticamente quando o seguinte dado aparece: O padrão de consumo dos países de primeiro mundo conta com 20% da humanidade consumindo 80% dos recursos produzidos no planeta. Portanto, se esse padrão fosse igual para todo mundo, precisaríamos de mais dois ou três planetas.


O grande argumento do filme, mesmo sendo lançado vinte anos atrás, se sustenta no fato de que, atualmente, tudo pode se tornar um produto de consumo, desde informações até produtos materiais. Isso, aliado com os padrões de consumo dos países desenvolvidos, está custando muito caro para o nosso planeta. A exploração não se justifica mais pela sobrevivência e sim pela necessidade, fabricada pela propaganda, de comprar e, consequentemente, ser feliz. Desse modo, se nada mudar, estaremos atraindo para nós mesmos nossa destruição.


Mateus Pontes Ruivo

Graduando em Educomunicação (ECA/USP) e bolsista do Projeto CineGRI (2019-2020).


Referências:

Surplus: Aterrorizados Pelo Consumo. Erik Gandini, 2003. Disponível em: <https://youtu.be/prkcD-zrPw0>. Acesso em: 31/01/2020.

BAPTISTA, Vinícius Ferreira. A relação entre o consumo e a escassez dos recursos naturais: uma abordagem histórica. Saúde & Ambiente em Revista, v. 5, n. 1, p. 8-14, 2010.

CRUZ, Leonardo. Manifestação antiglobalização tem na Itália a primeira morte. Folha de S. Paulo, São Paulo, 21 de Julho de 2001. Mercado. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2107200102.htm>. Acesso em: 31/01/2020



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